Game Design: quando o fraco supera o forte (parte 2)

Saudações aos relativistas.

Vamos a segunda e última parte de casos em que o game design e boas idéias de uma equipe competente mais mais importantes do que o poder de processamento o quantidade de recursos da placa de video de algum console. Para quem não leu a parte 1, clique aqui. Sigam-me.

Batman 2: Return of the Joker NES vs Genesis

Joker

Na vastidão de jogos de ação com plataforma que povoam a biblioteca do NES, um dos mais lembrados e reverenciados certamente é Batman. Um game clássico, competente, desafiante e divertido. Nem demorou tanto e logo sua sequência foi lançada, o Return of the Joker. ROTJ não superou seu antecessor em termos gerais, mas também se mostrou um bom game, além de ser um desafio tremendo para quem tentar terminar. Com o sucesso da versão NES, a Sunsoft resolveu lançar versões para GameBoy e Genesis para ganhar uns trocos extras, e aí a coisa deu uma desandada.

Talvez para economizar tempo e dinheiro na produção, a versão Genesis era apenas um port da versão 8-bits. Tirando o nome Revenge ( no lugar de Return) of the Joker, e uma apresentaçãozinha picareta, era o mesmíssimo game do NES. Quer dizer, era uma tentativa de ser o mesmíssimo game, pois a versão Genesis conseguiu a proeza de ser pior que a de um console que era tecnicamente bastante inferior. Revenge of the Joker é simplesmente horrível.

O jogo tem um dos piores gráficos que vi no Genesis, era mal animado, borrado, com jogabilidade dura. Incrível como um mesmo game pode soar de maneira tão diferente em sistemas diferentes. Fiquem com a versão de NES que se vê e joga bem melhor. Esse jogo mostrou bem como apenas uns bits a mais no processador não bastam para se fazer um bom jogo, mesmo quando se é apenas para adaptar algo provindo de uma plataforma mais humilde.

Bonus Track:

No final do video, o Angry Videogame Nerd fala um pouco sobre os jogos:

Shaun White Snowboarding de Wii vs consoles HD

Shaun White

Depois de falar de games mais antigos, resolvi pegar um caso mais atual. Sabemos todos que o Wii (ainda) sofre com a avalanche de jogos casualizados, cujo real significado remete a jogos imbecilizados. Muitas produtoras acreditavam que bastava fazer um design genericamente cartonizado e estrutura de jogo super simplificada a ponto de qualquer tapado fosse capaz de jogar, que assim atingiriam a chave do sucesso e do dinheiro fácil. A Ubisoft foi uma dessas produtoras, cujoa linha inicial de jogos para o Wii era bastante sofrível em todos os aspectos. Até por isso que o anúncio do game baseado no nome do esportista Shaun White foi recebido com frieza e reticência pela imprensa de games, e por muitos jogadores, por extensão.

Quando a Ubisfot anunciou haveriam duas versões distintas para o game – uma supostamente séria para os consoles HD e outra mais “casualizada” para o Wii – aí que o pessoal ficou ainda desconfiado do resultado que poderia sair disso. Mas a verdade é que a decisão se mostrou acertada, ao menos no caso do Wii que saiu ganhando com a melhor versão do jogo. Shaun White é um belo game de snowboarding, que conseguiu (com as devidas proporções, para eu não ser injusto na comparação) superar os melhores momentos de 1080 Ten Eighty Snowboard do Nintendo 64. Trata-se de um jogo que não teve vergonha de ser arcade, esquecer completamente o realismo e buscar exclusivamente a diversão.

A equipe de design do jogo foi bastante feliz tanto no aspecto técnico quanto no gameplay. Como o pouco poder gráfico do Wii não favorece jogos que buscam estética mais realista, a Ubisoft acertou cheio no estilo cartoon do jogo, especialmente em um gênero que costuma ter uma certa monotonia gráfica devido ao predomínio dos tons brancos das montanhas nevadas que compoem esses jogos. A paleta de cores foi muito bem escolhida, os personagens demonstram vivacidade, e os belos efeitos ajudaram a compor uma estrutura gráfica que se não é brilhante, ao menos respeitou a capacidade do console. O Gameplay foi muito bem desenvolvido também, e apenas com o Wiimote (sem nem mesmo o nunchuk) conseguiu-se uma gama grande de possibilidades de ação. Um decisão também bastante acertada foi a inclusão do suporte ao balance board, que eleva ainda mais a riqueza do gameplay de Shaun White.

Já nos consoles HD, trata-se de um jogo medíocre, sem sal, que nada adicionou ao gênero. É um game que ficou no meio do caminho, não se assumindo como arcade, mas que também não buscou simular as regras da realidade. Assim, a experiência de jogo tornou-se rasa, com poucas opções (se não me engano são apenas quatro montanhas), prendendo por pouco tempo o jogador frente ao console. Considerando as capacidades técnicas do X360 e PS3, muito pouco foi feito, ainda mais comparando com um console bem mais modesto como o Wii.

Embora tenha cometido dois erros para ter um acerto, a Ubisoft mereceu crédito por ter sido um tanto corajosa e ter quebrado o paradigma ao qual várias produtoras prenderam o Wii. Saiu do óbvio ao fugir da opção fácil de apenas pegar a versão HD, piorá-la consideravelmente e apenas adicionar uns truques via wiimote. Não disse que um design inteligente pode fazer o mais fraco superar o mais forte? Estão aí as provas.

Gran Turismo Playstation vs simuladores do Nintendo 64

Gran Turismo

Em 1995 quando ainda se chamava Reality, havia toda aquela pompa em relação a maravilhosa tecnologia do aparelho que estava para ser lançado. Era tão fantástico que até mesmo podeia rodar games. Todos sabemos que embora o Nintendo 64 tenha sido o console mais tecnicamente capaz, na prática não foi tanto assim. Especialmente quando se tratou de simuladores de corrida naquela geração.

Embora o Nintendo 64 tivesse todas as condições para fazer um simulador que seguisse as regras da realidade (com as óbvias limitações), esse papel caiu no colo do Playstation, graças a extrema competência da Polyphony, produtora de Gran Turismo. Devido a um projeto caprichadíssimo e muito bem administrado, quem queria um game de corrida que fosse diferente do esquema arcade/cartoon, tinha uma bela opção no console da Sony. A estrutura de jogo de Gran Turismo levava em conta uma série de princípios que por um motivo ou outro eram ignorados em outros jogos; cada modelo de carro correspondia de forma a emular suas versões reais, assim como as pistas presentes. Paralelamente, o jogo era quase um show técnico, com gráficos e efeitos que levaram o Playstation ao seu limite. Me lembro que na época achava a maioria dos jogos do Playstation feios e quadriculados, mas Gran Turismo conseguiu me impressionar de verdade.

Já o Nintendo 64 foi uma lástima nesse gênero. A exceção de Mario Kart 64, praticamente todos os outros jogos de corrida eram no máximo medíocres, e nem deles sequer chegou perto da excelência de Gran Turismo. Inclusive tecnicamente, o que é pior, pois o poderio do N64 lhe obrigava a mostrar jogos tecnicamente mais impressionantes. Já dizia um antigo comercial de tevê que poder não é nada sem controle. A Polyphony mostrou isso na prática, produzindo um game que não só superou os limites impostos pela plataforma a qual trabalhava, como superou até mesmo a plataforma rival supostamente superior.

Quando o design é bem feito, o projeto se beneficia das limitações, não se prejudica por elas. Gran Turismo foi um exemplo claro disso.

Quem se lembrar de mais casos parecidos, podem me mandar que a gente discute. Quem não leu a parte 1, clique aqui. Abraços e até o próximo post.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

8 thoughts on “Game Design: quando o fraco supera o forte (parte 2)

  1. Avcf, Resident evil 2 do N64 se encaixaria nessa questão? Lembro que sempre joguei os jogos no PS1 e quando decidi comprar um N64, joguei RE2 para o console. Na minha opinião, ele era muito melhor que o do PS1, os gráficos em 3D são melhores, a velocidade é maior, o som estava em Surround (quando ligava no som ficava uma maravilha hehe) e os efeitos sincronizados dando ainda mais sustos do que na versão CD, e a opção de mudar a cor do sangue ou até mesmo desliga-lo, diminuindo a violencia e ainda tinha como aumentar a resolução da tela usando o expansion pak. A unica coisa que ficou ruim foram as apresentações em CG, que não ficaram horrendas, mas foram compactadas, fora isso tudo estava lá, até mesmo os extras e os dois cenários que poderiam ser alternados. Lembro que na época todos falaram que a midia do N64 não seria forte o suficiente para rodar um game da série, principalmente pela CG. O N64 é um console gráficamente superior, mas os cartuchos limitavam esse poder, portanto acredito que o fraco cartucho do N64 superou o forte CD do PS1. Não sei se funciona desse jeito pois não tenho técnica suficiente para analisar e saber se realmente uma versão é melhor que a outra, esta é só minha opnião.

  2. Eu joguei as duas versões na época, primeiro no PS1 e depois no N64 com cartucho de expansão. A versão N64 era claramente superior, de fato. Mas nesse caso somente a midia conta a favor do Playstation, pois o console era tecnologicamente mais limitado que o Nintendo 64. O cartucho limitava o N64 apenas na quantidade e tamanho de alguns recursos, mas não acredito que tenha inviabilizado algum game por isso. Tirante as animações pré-renderizadas e videos em geral, em termos de capacidade o Nintendo 64 podia fazer boa parte dos jogos do Playstation com um pé nas costas. Resident Evil 2 mostra isso.

    Aliás, RE2 é o maior jogo do console, com 64MB (megabytes e não bits). Se for tirar todas as tralhas que nada tinham a ver com gameplay, creio que a maioria dos do PS1 não ficassem muito longe dessa marca, também.

    Nesses dois textos eu falei mais sobre jogos e consoles, não sobre mídias e aí portanto não entraria o caso do Resident Evil 2. Cheguei a pensar nesse jogo, mas achei que o critério ficaria um tanto aberto e decidi retirá-lo.

  3. Return of Joker é um dos melhores jogos do NES, tanto graficamente quanto na parte sonora. Excelente artigo, falou exatamente o que sempre achei. Na parte de PS1 e N64, concordo plenamente, tive os dois consoles, e em jogos de corrida, PS1 ganhava disparado.

  4. Dentro do próprio acervo do N64, me lembro de dois momentos distintos para mim, fã de games top gear: O lindo (e incrivelmente chato) top gear rally 2, com toda a sua “simulação” e precisão, gráficos muito bem trabalhado e som de primeira, frente ao mediano top gear overdrive, que apesar de curtíssimo e com poucas pistas, além de não ter nenhum carro licensiado, me divertia como nenhum outro jogo de corrida jamais me divertiu.
    Top Gear overdrive era o game de corrida estilo arcade definitivo (em sua época), sem grandes pretensões, mas muito competente no que se propunha.
    Até hoje eu procuro outro cartucho do game tão bem conservado quanto o que eu tive em meu primeiro n64…

  5. Interessante. E mais ainda como o N64 e o Gamecube eram gritantemente superiores aos concorrentes PS1 e PS2 respectivamente, mas mesmo assim perderam a guerra de consoles para eles, infelizmente. E dessa vez é a Nintendo que esta dando o troco, pois tem um console tecnicamente inferior, mas que esta ganhando a guerra disparado.

  6. meio off:

    Com relação ao Gran turismo e todo seu conteudo… (lembro q o GT2 vem em 2 CDs inclusive). nao sei se poderia ser feito no N64 devido a limitação do cartucho… Alguns citariam RE2, mas enfim…

    A nintendo sempre faz alguma cagadinha em seus consoles de mesa desde o n64…

  7. Rodrigo, foi justamente isso que o Avcf falou comigo, eu mencionei RE2 por este motivo, a midia não seria capaz de rodar mas funciona perfeitamente, mas como ele disse, exemplos assim explodem e ai deixaria as coisas muito expansivas. E quanto a corridas, lembro que no N64 existia uma game muito bom por sinal que não era tão bem feito como o GT, mas era bem divertido, o World Driver. Tinha uma ideia de equipes interessante, que a cada corrida ganhada vc recebia propostas das equipes, e se trocasse muito de time eles ficavam com um pé atras em te aceitar ou oferecer carros. Claro que nem sempre ficava assim, pois na metade do game com todas as equipes abertas vc podia fzr o que quisesse hehe. E os gráficos eram lindos, quase beirando a qualidade alcançada pelo PS2 no inicio de carreira. Os efeitos de luz (um forte do N64) eram brilhantes e tinha a chance de jogar m widescreen com resolução maior sem o expansion pak. Jogabilidade muito boa e dificil, desafiadora, era bastante dificil ficar em primeiro lugar, bastante emocionante. Não sei se vcs consideram ele assim, mas já aluguei muito esse game e curtia pacas.

  8. O melhor jogo de corrida do N64 tanto tecnicamente quanto em diversão é Ridge Racer, muito desafiador mesmo o game. Já no jeitão mais fantasioso lógico que é F-zero (até porque as outras opções de games de corrida no N64 são lamentáveis rsrs).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *