Especial Bad Trip 10 idéias idiotas: O presidente idiota e a destruição do mercado – parte final


Contemplem o maior idiota do nosso especial. Vejam que nem ele se leva a sério.

Saudações às vossas existências.

Enfim chegamos ao ápice da estupidez animal, ao limite da burrice, ao apogeu da desgraça, ao topo da palermice videogamística. É incrível como basta dar poderes a um idiota para ele mostre toda a sua capacidade de fazer cagadas atrás de cagadas. cada vez maiores e cada vez piores. O que mostrarei no post de hoje é uma crônica de como colocar o cara errado pode por a perder todo o trabalho e reputação de uma empresa renomada, além das consequências devastadoras que isso pode ter. Nenhuma das outras idéias idiotas chega aos pés, ou melhor patas, dessa. Preparem o saco de vômito, o Plasil, uns calmantes e tirem as crianças da sala. Realmente chegaremos ao ponto mais baixo da história da civilização humana.

Antes de começar a nossa saga propriamente dita, voltemos um pouco no passado. Em 1972 Nolan Bushnell e Ted Dabney investiram US$ 250 cada um para fundar a Atari, uma pequena empresa que trabalharia com jogos eletrônicos. Eles começaram de forma humilde, com apenas uma secretária e um engenheiro como os primeiros contratados. Trabalharam duro, até que desenvolveram um protótipo de um jogo de ping pong e resolveram testá-lo em um bar próximo. Nomearam a criação de Pong, o teste no bar foi um sucesso a ponto do dono do lugar ligar para a Atari reclamando que a máquina tinha quebrado, quando na verdade o receptor de moedas ficou lotado.

Pong foi lançado, fazendo um sucesso enorme, algum tempo depois a Atari lançou o Home Pong, versão doméstica do Arcade, causando grande estardalhaço, rendendo milhões para a companhia.Dezenas de clones foram lançados, mas o Pong genuíno da Atari é que causava sensação. A companhia cresceu, passou a lançar diversos sucessos nos fliperamas, tornando-se milionária. Por volta de 1976, a companhia decidiu dar um passo ousado: desenvolver um console completo, com recursos não vistos nos arcades da época, aproveitando a idéia dos cartuchos intercambiáveis do Channel F. O problema é que o desenvolvimento era muito caro para o padrão financeiro da Atari, e a companhia começou a encontrar sérias dificuldades. No fim das contas, só restou uma saída para buscar o capital necessário: vender a companhia. Era uma decisão difícil, mas era a única opção (o próprio Bushnell disse anos depois que se arrependeu disso), e a Warner Communications foi a compradora. No final de 1977 foi lançado o Atari 2600.

Tudo ía bem, tudo estava legal, até que a Warner tomou talvez a sua decisão mais estúpida: colocar como presidente um certo cara chamado Ray Kassar. Ray nada tinha a ver com videogames, nunca teve contato com esse marcado até então, não entendia nada sobre hardware, software ou games. Era um sujeito de fino trato, que vestia ternos caros, tinha diploma na Harvard, era arrogante, e de cara mandou que seu escritório fosse decorado com objetos caros. O tipo clássico do chamado “almofadinha”. Já começaram a sentir a água no chop? Vamos em frente que tem muito mais.

A princípio, não parecia ter feito diferença, pois com o lançamento de Space Invaders para o 2600, o console foi catapultado a condição de fenômeno cultural e comercial. Mas a despeito do sucesso, as coisas começavam a ruir internamente. Kassar tinha uma mentalidade geometralmente oposta a de Bushnell. Enquanto o primeiro pregava a filosofia “work smart, not hard” e tratava os funcionários com respeito e igualdade (afinal, Bushnell era muito parecido com eles), Kassar era arrogante, desprezava os engenheiros e programadores, que em seu modo de ver eram como se fossem meros peões em uma linha de produção industrial, e não artistas que estavam trabalhando em criações originais. Claro que as duas visões de mundo iriam se chocar, e Kassar na condição de presidente fez seu poder valer, pressionando para uma saída de Bushnell da companhia que ele mesmo fundou e ajudou a crescer. Era o começo do fim.

A intransigência de Kassar criou diversos conflitos entre diretoria/presidencia e funcionários, o que contriubuiu para a saída das melhores cabeças da Atari ao longo dos anos, como foi o caso dos ex-funcionários que fundaram a Activision, por exemplo. Outro problema é que Kassar proíbia que os programadores recebessem qualquer crédito pelos jogos que eles mesmos criavam, gerando ainda mais raiva por parte deles, além de mostrar o desprezo e a ignorância do dirigente pelos produtos da companhia que ele administrava. Como apesar de todas as brigas e problemas o Atari 2600 era um fenômeno de vendas e lider inconestável em sua categoria, Kassar mantinha sua politica a mão de ferro. Como um homem que veio da área do marketing, ele pouco se importava com a qualidade e o esmero dos jogos, apenas com as vendas, e em sua mentalidade míope, achava que o Atari 2600 era um console que se vendia por osmose, bastava ficar sentado e esperar lojistas e distribuidores ligarem implorando por novas remessas do aparelho.

Mas AvcF, depois de tudo isso, cadê a idéia idiota em si? Pois amiguinhos, vamos começar o show de horrores. O sucesso de Space Invaders abriu os olhos da companhia para os games japoneses, e era previsível que o sucesso dos arcades Pac Man tivesse sua versão no 2600. Naquela época o esquema de lançamento dos jogos era diferente do que é hoje, no caso da Atari, somente ela mesma podia lançar jogos para o seu console. Feito o acordo com a Namco, Kassar queria o game nas lojas o quanto antes , pressionando para que a produção fosse a mais rápida possível. O resultado foi uma conversão péssima, cheia de bugs, gráficos ruins, jogabilidade lenta e travada. Para piorar, mais uma idéia idiota: na época que o jogo estava para ser lançado, estimava-se que a base instalada do 2600 era de 10 milhões de consoles. Sabem o que o gênio Kassar fez? Mandou que fossem fabricados 12 milhões de cartuchos, porque em sua extraordinária inteligência achava que milhões de pessoas comprariam um Atari só para jogar Pac Man. SEN-SA-CIO-NAL!!!

Ah mas tem mais…sempre tem mais. Não bastasse todo o prejuízo e constrangimento causado (visto que um monte de gente devolveu o jogo de tão ruim que era), tio Kassa (sentiram a intimidade?) aprontou mais uma. O ano: 1982. O filme: E.T. Era o blockbuster daquele ano, que se tornaria uma das obras-primas de Spielberg. Por ordem do tio Kassa, a Atari fez um acordo de milhões para garantir os direitos para produzir um jogo sobre E.T. O problema é que o filme saía em junho de 82 e claro que o Kassinha (sentiram a amizade, cumpadi?)bateu o pé para o jogo sair o quanto antes, de preferência junto do filme. Claro que isso gerou um rebuliço, afinal quem seria o maluco suicida que trabalharia com um deadline impraticável? Um maluco aceitou a tarefa inglória e tentou fazer um jogo completo em menos de seis semanas. Ele conseguiu…fazer o PIOR jogo da história dos videogames.

Ignorando todos os prognósticos, a Atari novamente mandou fabricar um putilhão de cartuchos e novamente mandou fabricar MAIS CARTUCHOS DO QUE A REAL BASE INSTALADA DO ATARI. O resultado da peripércia foi o maior vexame da história dos jogos eletrônicos. Centenas de consumidores revoltados devolveram os cartuchos de tão ruim que era o jogo, e outras milhões de unidades ficaram mofando nas prateleiras das lojas e depósitos. O episódio terminou com o escândalo dos cartuchos de E.T enterrados no deserto do Novo México, que arranhou a imagem da Atari de maneira irremediável.


Põe na conta do Kassinha que ele agarinti.

O resultado todos conhecem, a Atari anunciou prejuízos milionários nos balanços seguintes, o mercado afogado por um mar de jogos ruins e sem valor, pediu arrego e aconteceu o crash de 1984, em que o mercado de consoles nos EUA foi para o vinagre. Claro que o mano Kassa não foi o único responsável, mas ele foi a principal cabeça por trás de todas as idéias idiotas que a Atari teve em seus últimos anos de existência. Uma sequência de cagadas inacreditáveis conseguiu destruir uma empresa criativa e rica no auge de seu sucesso, em cinzas. Tudo por conta do homem errado, na hora errada, e as decisões MUITO erradas.

Vocês acham que o texto termina aqui? Nããão…temos um BONUS

A oportunidade perdida

Em 1983, enquanto o mercado de videogames domésticos dos Estados Unidos estava a beira do buraco, e como disse aquele antigo cartola do futebol brasileiro, deu um passo a frente. Enquanto isso, do outro lado do mundo, A Nintendo estava para lançar o Famicom, console que iria revolucionar o mercado dos videogames. Naquela época, a Nintendo era uma empresa com pouca representatividade foram do Japão, quase desconhecida, até. Os sucessos da companhia ainda ficavam à sombra de Pac Man e Space Invaders em termos de vendas e popularidade. Soma-se a isso ao crash, e existia razão para ter uma atitude cautelosa em relação a introdução de seu console no mercado estadunidese.

Foi então que surgiu a idéia de buscar um parceiro forte para lançar o Famicom nos EUA, como se fosse uma espécie de joint venture. Foi então que a Nintendo procurou a Atari para fazer uma proposta de parceria para o lançamento do que viria a ser o NES. A proposta era tentadora: a Atari teria a licensa para vender o Famicom internacionalmente, em todos os mercados, exceto o Japão. Em troca da permissão para a Atari lançar o console sob seu próprio selo, a Nintendo receberia royalties por cada unidade vendida, além do controle total sobre os jogos. Parecia vantajoso, certo? Pois a situação não era tão simples, o sucessor do Atari 2600 e 5200, o 7800, já estava em fase de projeto, e obviamente não faria sentido trazer concorrência pesada para sua própria criação.

O tio Kassa marcou uma reunião com os dirigentes nintendistas para discutir o negócio. Reunião íam e voltavam e estava mais enrolado que separação de rico. A Atari estava próxima de fazer um grande negócio, já que caso o 7800 não desse certo, teria um console de renome para distribuir mundo a fora. Mas a verdade é que o Kassinha deu mais uma de suas mancadas. Durante a Summer Consumer Show de 1983, a Coleco (principal rival da Atari nos Estados Unidos), fez uma demonstração de seu computador Adam, com a máquina rodando…Donkey Kong, versão licensiada do jogo da Nintendo de maior sucesso daquele tempo. A situação fez tio Kassa dar faniquitos, uma reunião de emergência foi marcada para tentar solucionar o caso. O fato é que ouve um racha entre os executivos de ambas as companhias e o acordo foi cancelado. A Atari perdeu a maior chance de sua existência para dar a volta por cima no mercado de videogames. Nunca mais ouve outra oportunidade como essa.

O resumo da ópera é conhecido: no ano seguinte houve o crash dos videogames na terra do tio Sam, diversas companhias faliram, Ray Kassar finalmente perdeu o posto de presidente da Atari, e a companhia terminou vendida para o investidor Jack Tramiel. Hoje atualmente a marca Atari é apenas uma lembrança daqueles tempos em que os videogames eram novidade e encantavam as pessoas com jogos simples e com poucos recursos. É o símbolo daqueles jogos românticos como Pit Fall, River Raid, Hero, Adventure, Enduro, entre outros. Quem sabe se fosse outro presidente ou se a venda tivesse sido feita a outra empresa, a história seria diferente hoje. Felizmente ou infelizmente, o trem da história só passa uma vez e não volta. E a Atari ficou para sempre.

André V.C Franco/AvcF – Loading time

*Com informações do livro Ultimate History of Videogames.

14 thoughts on “Especial Bad Trip 10 idéias idiotas: O presidente idiota e a destruição do mercado – parte final

  1. “O episódio terminou com o escândalo dos cartuchos de E.T enterrados no deserto do Novo México, que arranhou a imagem da Atari de maneira irremediável.”
    Mais exatamente no desertop de mojave!
    ein,a atari q existe hoje tem algo a ver com a atari antiga?
    ps:pergunta idiot@,se nao quiser responder e so falar a resposta
    XD

  2. sorte da nintendo nao ter caido na enrrascada de ter feito esse acordo!
    imagina hoje,talvez a nintendo tivesse sumido,mario,link,metroid e outro nao existiriam
    e quem sabe a sega ainda criase vgs Oo
    wtf o mundo seria outro,talvez nenhum vg de hoje poderia ter sido lançado!

  3. NitroxxBR,

    É só uma marca, não sobrou mais nada daquele tempo. Quando Jack Tramiel comprou a empresa, ele se focou mais nos computadores (Atari 400, 800, ST, etc.) e também faliu alguns anos depois. Posteriormente a marca foi pra Infogrames, que por sua vez virou Atari inc. Atualmente eles também eles estão bem mal das pernas.

    Quanto a primeira pergunta, era um negócio que a Atari não tinha como perder, pois se o 7800 não desse certo (e não deu) e o NES fizesse certo (ô se deu!) a Atari ganharia os tubos, dinheiro mais do que necessário naqueles tempos de crise que a empresa vivia.

  4. nuss
    triste
    uma empresa q realmente poderia ter mudado a historia dos games!
    sorte q a nintendo sempre se deu b… quase sempre se dem bem XD

  5. Você esqueceu de mencionar o jaguar.Um console que supostamente seria de 64 bits,e que foi um puta fracasso.
    Acho que essa foi a últma tentativa da atari a voltar ao mercado de hardware.

  6. Howard scott warshaw responsável por grandes sucessos do atari 2600 como Yars’ Revenger e Raiders of the lost ark e pelo fracasso de E.T.,disse em uma entrevista a EGM Brasil que não acredita que a atari enterrou os cartuchos encalhados de E.T. em um terreno no Novo México.Isso é lenda urbana ou é verdade mesmo?

  7. Apesar dele não acreditar, é verdade sim. Esse fato está documentado no livro Ultimate History of Videogames e a foto que está no post é de um jornal da época. “Ah, mas então como o cara que fez o jogo não acredita?” Simples, o enterro dos cartuchos foi tratado como algo confidencial, pois se tratava de algo extremamente vergonhoso. No fim, a noticia vazou do mesmo jeito e queimou ainda mais a companhia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *