Shantae and the Pirate´s Curse e a confusão Castlevania e Zelda

Saudações aos leitores.

Quem tem um 3DS em mãos e acompanha com mais ou menos afinco o mercado, certamente ficou sabendo do lançamento de Shantae and the Pirate´s Curse no fim de outubro. Pirate´s Curse é o terceiro jogo Shantae lançado pela Wayfoward, um atestado da excelência deles em jogos 2D, tanto originais quanto licenciados – Duck Tales Remastered foi produzido por eles, só para lembrar. Tendo jogado o primeiro Shantae, originalmente lançado para Game Boy Color em 2002, ficou nítido para mim a evolução, não apenas técnica, estética, como também de design. Se por um lado o primeiro jogo driblou limitações como o campo de visão restrito pela tela do Game Boy Color (o que dificultava a visualização de plataformas e inimigos, por exemplo), e pouca resolução para sprites e tiles, Pirate´s Curse se beneficiou de um console que lhe pode dar as condições ideais para desenvolver todo seu potencial.

Para quem não conhece, Shantae é um jogo cujo design deriva tanto dos plataformas clássicos, quanto de Zelda A Link to the Past, isso porque o jogador embora tenha um grande mapa a explorar desde o início, ele/ela o “abre” progressivamente com a aquisição de equipamentos que conferem habilidades extras. Esses equipamentos se encontram, claro, nos eternos calabouços, embora o diferencial de Shantae era que ao invés de ser um utensílio ou ferramenta, era uma dança do ventre que transformava a personagem em um animal.Para ficar ainda mais “zeldístico”, Shantae ainda contam com “corações-lulas”, que dão corações extras aos jogador a cada quatro coletados. Além disso, o jogo ainda tem pequenas side quests que normalmente envolvem encontrar algum item para algum dos NPCs presentes nas diversas vilas do jogo. Essa estrutura de jogo permanece em Pirate´s Curse, mas com a variação do “grande mapa” ter sido quebrado em um arquipelago, cujo acesso a cada ilha é condicionado ao encontro de seu mapa. Dessa forma, a progressão de Pirate´s Curse ficou um pouco mais linear que seu antecessor, ainda que o jogador possa voltar às ilhas anteriores para acessar novas áreas com os equipamentos novos adquiridos nas ilhas subsequentes. Aliás, esse jogo abandonou as transformações do primeiro Shantae em favor de equipamentos com temas de pirata.

O mais importante é que a execução disso tudo foi a melhor possível, pois o level design é dos mais caprichados, pois a dificuldade e desafio ficaram na medida certa, a exploração é bem feita, controles precisos, e você sente que evolui conforme progride no jogo. Os gráficos contam com belo trabalho de sprites e tiles, além de (finalmente) inteligente uso do efeito 3D, que realçou bem as camadas dos cenários, e a direção de arte cartoon/”mil e uma noites” casou bem tanto no jogo em si, quanto nos personagens. A trilha sonora ficou muito boa também, com músicas dando o tom certo para as fases e efeitos sonoros adequados.

Confusão-vania

Mas o que tudo isso tem a ver com o título, afinal? Bem, se vocês procurarem por reviews de Shantae, verão uma profusão do neologismo “metroidvania”, sempre com o intuito de tentar sintetizar Shantae, até de forma meio preguiçosa. Confesso a vocês que embora sempre tivesse uma certa implicância com esse termo, acabei recorrendo a ele uma ou outra vez aqui no blog. De qualquer forma, o fato é que “metroidvania” além de esquisito é equivocado, pois como o produtor de Castlevania Symphony of the Night, Koji Igarashi, deixou claro no último painel da GDC, sua insipração sempre foi Zelda:

“(…)Nós realmente queríamos extender a vida-útil do jogo, disse Igarashi, “e o jogo que veio à nossas cabeças foi Legend of Zelda, um jogo de ação recheado de exploração. Boa parte do nosso time, eu incluso, era muito fã do jogo, e nós queríamos fazer alguma coisa bastante similar. Então agora você sabe que a origem da inspiração não era Metroid.”

Passados mais de 7 meses dessa declaração, é incrível como ainda muita gente ainda perece ter preguiça de mudar e prefere continuar usando a expressão errada. Se bem que “Zeldavania” é tão feio quanto “Metroidvania”, e ainda por cima parece um daqueles nomes bizarros de caipiras do interior de São Paulo (imaginem a cena: “Zerrrdavania, vem arrrmoçááá!”). Por esse lado, até compreendo a preferência pelo antigo e errado termo.

O fato é que independente da influência, Shantae and the Pirate´s Curse é uma bela adição à biblioteca do 3DS, até lamento por estar disponível apenas por download, acho que um lançamento físico até valorizaria o jogo. A Wayfoward por sua vez merece o crédito por pela qualidade e o capricho colocados em um jogo original, algo cada vez mais raro em um mercado que prima, por uma série de razões, cada vez menos pela originalidade.

Até o próximo post.

AvcF – Loading Time.

 

 

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