Super Mario Bros 2: The Lost Levels – quando a Nintendo rardecorizou um jogo e seu deu mal

Super Mario Bros 2

Saudações aos saudáveis.

Sei que criticar Mario é sempre algo polêmico, mas esse post não se trata exatamente disso (ou só disso). Discutirei aqui um pouco sobre game e level design, de uma forma que até relaciono um tanto com a rardecoridade atual, rótulo esse que considero uma das coisas mais babacas em relação aos videogames. O que quero dizer com tudo isso? Cliquem no link e aproveitem o texto.

É indiscutível que Super Mario Bros foi um divisor de águas no mundo dos videogames. Que foi um jogo revolucionário. Não sei se é exagero de minha parte, mas talvez tenha sido o jogo que definitivamente sepultou a era Atari para sempre, dando início a evolução que permitiu a existência dos jogos que estão hoje aí no mercado. Até há quem não goste de Super Mario Bros, mas é impossível dizer que é um jogo ruim, creio que seja o único jogo que tenha tal unanimidade. Mas sempre quando se discute sobre a franquia, em especial dos jogos mais antigos, geralmente Super Mario Bros 2 é menos citado. Sua versão japonesa, conhecido no ocidente por The Lost Levels, menos ainda. Trata-se de um jogo praticamente ignorado, jogado para escanteio, que quase ninguém se lembra. Não é por acaso, existe um motivo para tal e é que discutirei nesse texto. O que digo de antemão é que Super Mario Bros 2: The Lost Levels é o pior dos Marios clássicos, e a razão para isso é que foi o único jogo da série que foi rardecorizado.

Por que digo isso? Basta observarem os jogos que mesmo Lost Level sendo exatamente o mesmo jogo com os elementos de fase modificados, há uma diferença gritante nas experiências de jogo. Super Mario Bros é fluido, prazeroso, cativante. Lost Levels é forçado, frustrante, intimidador. Para não ficar apenas nas minhas palavras, comparem os videos:

Super Mario Bros:

Super Mario Bros 2: The Lost Levels:

Atentem-se principalmente ao primeiro estágio. Claro que esses videos da internet costumam ou serem feitos por verdadeiros viciados pelos jogos ou com aquelas ferramentas de cheats de emulador, mas prestem atenção mais nos elementos de jogo do que como as atuações dos autores dos videos. Em SMB o primeiro estágio é praticamente um tutorial, cujo primeiro aprendizado é o ritmo e pulo – a ação central mais importante do jogo – sobre um goomba. Parece ridículo, mas pensem em que nunca jogou Mario ou quem nunca jogou um videogame. Justamente um dos segredos do sucesso do jogo é a mecânica de jogo ser democrática. Você não precisa ser um gênio do controle para seguir em frente e se divertir, ao mesmo tempo a curva de dificuldade é não é íngreme, permitindo assim que haja um aprendizado necessário à superação dos desafios posteriores. Embora soe como uma hipérbole, o fato é que o mundo jogou Super Mario Bros. Quando um não familiarizado mesmo de forma desengonçada dá os primeiros pulos, passando sobre os goombas e koopas, pega o cogumelo e consegue ir em frente; a sensação de recompensa é enorme.

Vocês se lembram quando escrevi o post entitulado “Os games Mario precisam de um novo paradigma?”, quando debati as razões pelas quais os Marios 3d são menos atrativos do que os 2d? Uma das razões é que a mecânica (assim como algumas situações de jogo) dos tridimensionais não é tão democrática quanto quanto os bidimensionais. Em SMB, SMB3 e SMBW você anda, corre e pula, não precisa de mais nada. Em New Super Mario Bros você tem algumas ações extras como o pulo lateral e o quique entre duas paredes, mas você não é obrigado a dominá-las para seguir em frente no jogo. Por outro lado, dê um controle na mão de alguém não familiarizado e mande-o jogar Mario 64. Certeza que a maioria das declarações será algo parecido com “nossa, que complicado”. Não é à toa que Sunshine e Galaxy têm tutoriais. Me desviei um pouco para dizer que Lost Levels passa por processo parecido. Seria um jogo que precisaria de tutorial, e na minha opinião não há fracasso maior em termos de design do que a necessidade de um tutorial formal para orientar um jogador.

Assistam novamente o video do Lost Levels, e me digam quem não vai tomar um monte de game over já no primeiro estágio. O jogo sequer contextualiza o jogador e não se dá ao trabalho de prepará-lo para os diferentes tipos de desafios. Logo de cara percebe-se um level design absolutamente desequilibrado, que soa forçado para ser difícil desde o primeiro instante. Não parece um game Mario de fato, e sim uma versão modificada em um precursor desses editores de tiles que vemos aos montes na internet. Soa assim também porque Lost Level é mais feio do Super Mario Bros, com um monte de substituições de tiles por versões mais feias que não parecem encaixar com aquele universo estético. Olhem para as árvores horríveis, para um troço que parece um cogumelo de fundo, para o sorriso medonho das nuvens, para as desnecessárias e infelizes versões dos blocos do chão, das plataformas aéreas moveis e outros detalhes de cenário e vocês saberão do que falo. Pior que muitas das decisões de design não parecem fazer o menor sentido, como peixes voando em um castelo do Bowser (?), água em locais insólitos e inimigos posicionados de forma que parece até aleatória.

Outro problema é que o jogo deveria ser uma sequência verdadeira, já que se chama Super Mario Bros 2: The Lost Levels, e não Super Mario Bros Lost Levels. Normalmente nos melhores jogos a sequência é uma evolução ou mesmo uma modificação da experiência de jogo do anterior. Mega Man 2 em nada se parece com o antecessor, mesmo compartilhando de vários elementos gráficos e sonoros, fora que cada Mega Man subsequente é diferente do anterior. O mesmo vale para Ninja Gaiden. Zelda II também é completamente diferente do primeiro. Lost Levels é tão fraco e sem personalidade que a maioria dos jogadores assume como Super Mario Bros 2 aquela versão que no Japão ficou conhecida por USA, em que podemos escolher entre Mario, Luigi, Peach e Toad. Mesmo não sendo um Mario genuíno, e sim um sprite swap do jogo originalmente conhecido por Yume Kojo: Doki Doki Panic, garanto que todo mundo (eu incluso) prefere esse a The Lost Levels.

Por fim…

Em um de seus posts recentes, Malstrom tira sarro de um sujeito que diz que Super Mario é rardecore, e o analista rebate essa tese dizendo que na verdade para boa parte desse pessoal do jornalismo de games, um jogo é rardecore quando eles (os jonalistas) gostam desse jogo. Pois digo que os jornalistas, ratos de fórum, geração playstation e qualquer um que aceite para si esse rótulo idiota estão errados. Super Mario não é hardcore. Zelda não é hardcore. Metroid não é hardcore.Assim como os melhores games não são. Os jogos passam a ser rardecorizados quando os designers esgotam suas idéias, passam a forçar a barra e desistem de fazer um jogo que possa ser dominado de forma gradual por qualquer um queira se divertir jogando um videogame. Mega Man e Ninja Gaiden sempre foram jogos difíceis e mesmo assim foram clássicos, cujas versões originais são eternamente relembradas. Mas perderam graça e relevância apartir do momento quando foram rardecorizados (se bem que Mega Man foi prostituído). Street Fighter nunca foi rardecor até SF III. Quem advinhar qual é o jogo mais impopular e menos jogado da série ganha um pacote de bala Juquinha.

Foi o que aconteceu com The Lost Levels, e é o pior Mario da franquia. Ninguém se lembra desse jogo, ninguém o quer de volta. Até os títulos menos conhecidos da série como Super Mario Land 2 e World 2 são lembrados, menos Lost Levels. Quando a Nintendo rardecorizou um jogo, seu deu mal. Até por isso rio quando alguém escreve na internet que “a Nintendo abandonou os rardecores”. Trata-se de um sofisma, pois a Nintendo nunca foi rardecor. Na única vez que foi, fez o pior jogo envolvendo seu mascote.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

15 thoughts on “Super Mario Bros 2: The Lost Levels – quando a Nintendo rardecorizou um jogo e seu deu mal

  1. Esse game eu não joguei no Nes e sim no SNES, naquele cartucho Mario All Stars. Mas sempre dava game over na primeira fase, dai eu desistia e is jogar outro. Pra mim o Mario 2 realmente era aquele de escolher varios personagens. Na capa dele vinha escrito SMB 2 e tinha um Mario segurando uma cebola (Deus, como já aluguei isso huahua). Era dificilimo, mas não ao extremo como esse. Lembro que cheguei longe, mas meu preferido era o 3 mesmo. Quando deixei o meu N64 na casa do meu sobrinho (morrendo de medo), minha irma reclamou muito de como era complicado jogar SM 64, a mesma que jogou comigo por anos SMB e Sonic, foi quando entendi o texto sobre novos paradigmas.

  2. Bacana viu, nunca vi essa abordagem sobre o Mario 2.
    Era o tipo de coisa que tinha que ser publicada numa revista de grande circulação por aqui.
    o/

  3. Pois é, como se chamar um jogo de casual fosse um demérito.

    Se Super Mario Bros. não fosse acessível, não teria tido esse sucesso todo.

    O ruim desse povo é que não percebem que se “hardcorizarem” tudo, a indústria quebra novamente.

  4. wtf to vendo um video do Super Mario Bros 2: The Lost Levels: no vocetubo,e caramba se esse fosse o seu primeiro jogo na epoca,vc concerteza iria parr de jogar vgs por anos!!!
    incrivel a dificuldade no primeiro lvl,sacanagem XD

  5. As vezes acho que os “rardecores” têm um puta medo babaca que o videogame se popularize e vire algo “para todos”. O grande tesão de um “rardecore” babão é se orgulhar do quanto o jogo é foda, o quanto ninguém sabe e ele passou metade de sua vida dominando. Não sei se é patético e triste ou motivo de orgulho.

    Vejo coisas grotescas como jogos que exige mais de 60 horas para completá-lo 100% (gostaria mesmo de saber qual a satisfação de fazer um jogo 100%…) e outras coisas decepcionantes.

    No final de contas, as empresas estão mesmo ligando a tecla “foda-se” aos rardecores gradativamente e só eles não perceberam. Quando o Wii saiu e tinha até turma de idosos jogando, a Nintendo achou um mercado muito melhor e mais lucrativo que o mercado dito “rardecore” e hoje esfrega na cara dos competidores a grana fodida que conseguiu com isso. Agora a Sony e a Microsoft aparecem na E3 anunciando essa tecnologia…com a diferença da Sony ter sido mais espertinha (ou burra, sei lá) anunciando o controle de movimento para o público “rardecores”…e eles engoliram feio. Pode-se ver os jornalistas se masturbando na conferência da Sony pq viram jogos e um controle sendo usado de maneira “rardecore”…enquanto as outras duas empresas já mostram terem sacado finalmente que só esse público não sustenta ninguém.

    No final de contas todos querem um mercado expansivo…e isso equivale ao game se tornar modinha e os jogadores xiitas dentro desse pânico de perderem a única exclusividade que exercem em algo, se escondem atrás de uma categoria mais conservadora chamada “rardecore”.

    Eles mal imagiam o que esse mercado aguarda a eles….

  6. Joguei esse mario somente na época do lançamento de Super Mário All Stars. Consegui terminar, mas depois de muito stress e tentativas frustradas. Não considero o pior mario, mas sim, disparadamente o mais difícil

  7. Creio que o equivocado é esta taxação de casual e rardecor… no caso do jogo extra-super-difícil demonstra a preguiça do programador que mostra como única vantagem do jogo a sua super dificuldade. Era comum na época dos 8bits porque o jogo não tinha os conceitos modernos de fator replay e a durabilidade vinha principalmente da dificuldade do jogo. Já os “casuais” de hoje em dia também denotam a mesma preguiça, pois trata-se de um rótulo para o jogo mal feito que será jogado por uma ou duas horas…

  8. Adorei o verbo: “rardecorizar”

    Eu rardecorizo
    Tu rardecorizas
    Ele rardecoriza
    Nos rardecorizamos
    Vós rardecorizais
    Eles rardecorizam

  9. prefiro jogos casuais, como meu mega man x \o/

    que ficou meio “rardecore” no psp, jogando com o vile…. mas ainda assim gosto muito dele 😀

  10. Caraca,fazia tempo que nao via esse mario aì xD Acho que eu tinha uns 4 ou 5 quando joguei esse aì.Me lembrei dele por causa das nuvens com a cara de psicopatas e do mario que è verde (?) xD Na verdade eu era tao pequena que eu apenas ficava olhando enquanto a minha mae jogava (sim,minha mae jogava comigo ao mario XD)… era bastante dificil mesmo,atè mesmo para nòs que jà tinhamos o calo de jogar ao primeiro, talvez seja por causa disso que ainda tenho medo daquelas nuvens psicopatas o.o (e hoje tenho 15 anos… ._.’).

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