Pérolas publicadas: Omelete escorrega da frigideira ao tentar homenagear o Famicom, não o NES, quer dizer o Fami…

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Saudações aos leitores.

É amigos, escrever sobre games realmente não parece ser tarefa fácil. Após a última pérola matemática, desta vez a pérola é histórica e tem a ver com o aniversário de 30 anos do lendário Famicom. Por conta desse fato, o site Omelete, cuja especialidade é falar sobre cinema, resolveu publicar uma lista com 30 “curiosidades” sobre o NES (?), fazendo uma bela bagunça ao falar dos consoles americano e japonês da Nintendo.

Para não deixar o post longo demais, sugiro vocês acessarem a lista aqui em uma aba separada, e abaixo mostrarei todos os erros e pérolas contidas nela. Antes, quero apenas fazer duas considerações rápidas. A primeira é que tenho grande antipatia pelo uso do substantivo “estadunidense”, ao invés do correto “americano”, para definir relativo aos Estados Unidos. Esse termo é fruto primeiro da síndrome de vira-lata do brasileiro em relação aos vizinhos desenvolvidos do norte do continente, com o papo babaca de “todos nós somos do continente americano”. Em segundo lugar, a grande influência da esquerda no jornalismo – afinal, muitos jornalistas são simpáticos à esquerda – faz com que muitos profissionais adotem o termo como uma espécie de resistência linguística, que em muitos casos é só um disfarce para o velho anti-americanismo. Além de tudo, o substantivo “americano” é o correto simplesmente porque o nome oficial do país é Estados Unidos da América (United States of America), o que faz com que seus habitantes sejam americanos, da mesma forma que somos brasileiros por pertencer à República Federativa do Brasil. Enfim, era tanto “estadunidense” pelo texto, que a repetição desse erro me encheu o saco.

O outro problema do texto foi uma tremenda confusão do redator quanto o que é Famicom e o que é NES, ora nos fazendo entender que é um quando deveria ser o outro e vice-versa. Fora que o redator da matéria erra feio ao considerar que o Famicom é “primeira versão” do NES, quando o certo é que foram aparelhos diferentes, com propostas distintas e jogos distintos, até porque o Famicom recebeu um caminhão de jogos que não foram lançados para o NES, e mesmo alguns clássicos foram lançados sob midias diferentes. Aparadas todas as arestas, vamos em frente.

Bem, a lista conseguiu a proeza de ser equivocada do começo ao fim, então vamos lá, ponto a ponto:

1 – O primeiro console de mesa da Nintendo foi o Color TV Game 6, lançado em 1977, isso sem contar as versões table top do Game & Watch. E o Famicom veio antes do NES, óbvio.

2 – Como mencionei na introdução, jornalista parece confundir NES e Famicom, que não era a “primeira versão” do NES. Além disso, o Famicom tinha os dois controles embutidos no console, não apenas um.

3 – Enquanto que o Famicom foi projetado para ser um computador familiar, o NES foi projetado para ser um brinquedo pelo fato de que os videogames não eram aceitos e bem vistos nas redes de lojas dos EUA, que atravessava o histórico crash. Tanto que o NES foi lançado com bastante cautela, e primeiramente foi introduzido em “mercados-teste”, como Nova Iorque por exemplo. A Nintendo até chegou a exibir o NES com um teclado e como um mini computador na CES de 1984, mas rapidamente desistiu da idéia e posteriormente lançou o console como um brinquedo.

4 – A lineup do Famicom era que tinha esses jogos. A do NES teve bem mais, com 18 jogos incluindo títulos como Tennis, Duck Hunt, Ice Climbers e um tal de Super Mario Bros.

5 – Errado de novo, pois a Atari permitiu que terceirizadas produzisem jogos para o 2600, sendo a Activision a primeira delas. Tanto que Pitfall foi o segundo jogo mais vendido do Atari.

7 – Foi o Famicom que comecou a ser fabricado em 1983, não o NES. A confusão persiste.

9 – Caramba, que pérola! Periféricos existiam desde o primeiro console de mesa, o Magnavox Odyssey, que vinha com uma pistola. E antes do Famicom, o Atari 2600 e mesmo o Vectrex tiveram periféricos.

10 – Console de mesa ok, mas o Game & Watch Multi Screen (o pai do Nintendo DS) já tinha d-pad antes do Famicom.

11 – Mario já fazia sucesso e era “símbolo” da Nintendo antes do jogo Super Mario Bros. Basta lembrar que não apenas protagonizou Donkey Kong (ainda sob a alcunha “Mr.Video”, mas o personagem já estava lá), como já tinha estrelado Mario Bros.

12 – O microfone foi um recurso do controle do Famicom, nunca foi nem pensado em ser inserido no do NES.

13 – Ler que o “NES foi lançado no Japão” não só é bizarro, como ainda por cima a informação está errada, pois o Famicom foi lançado por 34,800 ienes.

14 – Novamente a confusão Famicom/NES, e ainda por cima é bobagem, simplesmente porque a Nintendo escolheu de cara o chip MOS 6502 (que foi desenvolvido em 1975 e foi usado no Apple I e Apple II), não apenas porque era um chip barato, mas também porque a versão usada pela Nintendo tinha funções extras. Usar o chip 68000 não foi a primeira idéia e nunca saiu do papel.

16 – A parceria entre Nintendo e Atari de fato foi proposta, porém o nome correto era “Nintendo Advanced Video System”, ou “AVS”.

17 – O bloqueio por região e da pirataria não se dava por causa dos pinos, e sim por conta do chip 10NES contidos em todos os aparelhos NES.

18 e 19 – Como se não bastasse a ruindade da lista, o redator ainda por cima é ruim de matetmática, pois ele simplesmente esqueceu dos items 18 e 19, pulando do 17 direto para o 20. Que feio.

26 – O NES não perdeu nenhuma disputa para o Master, simplesmente porque não pode ser lançado oficialmente fora dos EUA no mínimo até 1993. Isso porque a Nintendo sofreu uma série de processos nas cortes americanas.

27 – A única diferença de dificuldade entre o Mario 3 americano e japonês, é que na versão japa, Mario fica pequeno após perder um de seus power ups ao ser tocado por um inimigo, por exemplo. Não há lenda nenhuma e essa é a única diferença entre as versões no que tange dificuldade.

29 – O NES não foi desenhado para parecer “moderno e poderoso”, e sim para parecer um brinquedo e até mesmo lembrar um video cassete.

30 – Isso considerando apenas consoles, pois a Namco fez um baita sucesso com Pole Position, Pac Man d MS Pac Man, e a Taito com Space Invaders, isso tudo antes da Nintendo – que por sinal já fazia sucesso com Donkey Kong.

Tá bom, né?

Tudo bem que a lista foi feita com a melhor das intenções, porém um pouco menos de Google e um pouco mais de pesquisa bastariam para evitar tantos erros. Fora que a lista foi feita ou com pressa ou com desatenção, haja vista a inexplicável ausência dos items 18 e 19. Dada sua importância na história dos video games, o Famicom merecia uma lista melhor. Fritar um ovo pode ser uma tarefa simples a princípio, porém se não for feito com cuidado, pode escorregar e cair no chão.

Ah sim, se vocês quiserem saber mesmo sobre a história do Famicom e do NES, há uma excelente opção de livro aqui.

Abraços e até o próximo post.

AvcF – Loading Time.

5 thoughts on “Pérolas publicadas: Omelete escorrega da frigideira ao tentar homenagear o Famicom, não o NES, quer dizer o Fami…

  1. A especialidade deles são as perolas xD mas creio que a única coisa certa é que era sim pra ser “moderno e poderoso”, no japão era pra ser brinquedão, mas nos EUA esse modelo de negocio estava estaganado, por isso lançar um console como algo “futurista” foi a estratégia da nintendo para o ocidente.

    AvcF: não Cal, foi o contrário. No Japão o Famicom foi lançado como um computador familiar, tanto que recebeu acessórios como teclado e mesmo um tocador de fitas, inclusive, tinha até uma versão do BASIC para fazer programas. E ainda teve o Famicom Disk System, que era afinal um leitor de disquetes. O NES por sua vez foi vendido desde o começo como um brinquedo, tanto que vinha com pistola e o ROB.

  2. Parabéns! Adorei sobre o termo ‘estadunidense’. Acho isso tão feio e errado, que nem sei por onde começar. Só sei que quando vejo isso escrito na Super Interessante, já entro pra comentar e deixar um “COMUNISTAZINHO DE BOUTIQUE”.

    AvcF: Pois é Sammy, costumo dizer que uma criança morre na África toda vez que um jornalista escreve “estadunidense”, tamanho o ridículo que esse substantivo forçado e babaca carrega consigo.

  3. O mais engraçdo André, é que muitos jornalistas do meio gamer brasileiro são de esquerda. Pense numa contradição.

    Games são fruto do capitalismo. Único jogo DECENTE que o comunismo conseguiu criar foi obra de um cara que foi completamente ROUBADO pela BURROCRACIA estatal, que vendeu o produto de seu trabalho para os japoneses (Nintendo). O coitado foi morar nos EUA quando a Cortina de Ferro acabou. Tenho muita pena do Alexey.

  4. E pensar que um dia eu já fui “omelenauta” Rs. muito obrigado pelos esclarecimentos! A aba com a página do Omelete em comemoração aos 30 anos do “NES” já estava salva em meu navegador há alguns dias, mas ainda não havia lido. Agora posso fechá-la… Quanto ao editor, é possível que ele não tenha vivido a época, seja algum jovem da era 32bits e fez uma pesquisa apressada no Google. Talvez nem goste de games.

  5. Fizeram jus ao nome: um verdadeiro omelete com as informações ahahahah.
    Não é a primeira vez claro. Pior que nem na “especialidade” deles, o cinema, os caras conseguem agradar muitas vezes, só ver as críticas pseudo-intelectuais do Marcelo Hessel, por exemplo… Tem hora que começo a dar risada só com os títulos nas chamadas nas matérias.

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