Pânico Moral: Agora é a Super Nanny quem patrulha os videogames

Saudações aos esforçados.

Semana difícil essa. Já de antemão, peço desculpas pela falta de atualizações aqui no Loading Time. A junção aulas + trabalho + desorganização de minha parte bagunçou meu rítmo. Com relação ao título do post, não se trata de uma peça de humor minha, pois o título reflete exatamente a situação que será debatida aqui. Pois é, não satisfeita em botar ordem em filhos de pais mais perdidos do que cachorro em dia de mudança, agora a Super Nanny “original” (pausa para risos) resolveu patrulhar os videogames que a molecada joga. Puro pânico moral. Acompanhem.

Agora pelo menos tá ficando engraçado. Só faltava realmente uma “especialista” como Jo Frost para querer bater nos videogames, provando que essas máquinas do mal podem tornar seus pimpolhos não apenas em máquinas violentas, como também insensíveis. Para quem não sabe (e eu também não sabia até escrever esse post), Jo Frost é a protagonista da versão original do Super Nanny, programa que se dedica a ensinar pais abestados a como lidar com seus pirralhos birrentos. Até ai tudo certo, o programa fez sucesso, gerou diversas versões países afora (a do Brasil passa no SBT), etc e tal. O problema começou com o programa chamado Jo Frost: Extreme Parental Guidance, atualmente no ar na tevê britânica. Em uma recente edição do show, nossa heroína dedicou-se a provar para sua audiência o quanto uma aparentemente inocente partida de videogame pode transformar seu filhote em um menino violento e insensível.

O método genial para se chegar nessa conclusão foi o seguinte: em uma experiência conduzida pelo Dr. Douglas Gentile, 40 meninos foram divididos em dois grupos de 20, com cada grupo jogando 20 minutos de videogame. Um grupo jogou um “jogo de guerra em primeira pessoa”, enquanto o outro grupo jogou um simulador de futebol. Após a sessão de jogo, os 40 meninos foram expostos a videos violentos de telejornais (“violent news footage”), com os batimentos de seus corações sendo monitorados. A experiência mostrou que os meninos expostos aos FPS tinham batimentos mais lentos do que os que jogaram o game de futebol. Qual foi a brilhante conclusão tirada disso? Que apenas vinte minutos de exposição a videogames violentos foram capazes de dessensibilizar os meninos. Ai meu fígado…

Mas vocês acharam que parou por aí? Nãnãninãnão! Ainda tem mais! Em outra parte do programa (depois do melodrama típico que envonve todo pânico moral), o Dr. Gentile entrevistou os meninos utilizando um método cientificamente revolucionário: em determinada parte da entrevista, o glorioso Gentile derrubava um jarro cheio de lápis. Apartir dai verificou-se que entre aqueles que jogaram o FPS, apenas 40% pegaram os lápis, contra 80% daqueles que jogaram game de futebol. A conclusão disso é que a seção de videogame violento diminuiu a capacidade de empatia dos meninos. Depois dessa, eu sei que vocês clamam por essa imagem:

Bom, vamos destrichar essa gororoba por partes. Primeiro, claro, querer medir o nível de empatia de alguém jogando um monte de lápis no chão, é algo imbecil e uma afronta à inteligência alheia. Até um mico amestrado sabe que não há nada de científico nessa “experiência” toda.

Mesmo assim, o jornalista Keith Stuart desmonta a farsa em sua coluna no Guardian.Uk:

Essa metodologia, e as conclusões alcançadas, serão imensamente familiares para qualquer um que tem seguido esse tipo de pesquisa nos últimos dez anos; os resultados são previsíveis – e absolutamente inconclusivos. Neurociência cognitiva é um campo complexo; e talvez não seja algo para ser pinçado e jogado durante uma peça de voyeurismo da tv mascarado de material de documentário

No final da coluna, Stuart ainda demoliu a tese da Super Nanny (risos):

Finalmente, um fragmento obscuro que assombra todo o debate: vídeo games violentos estão por aí faz 30 anos. Se apenas 20 minutos de exposição são suficientes para tornar meninos normais em monstros insensíveis, nossas ruas deveriam estar cheias de violência. Elas não estão. Crimes violentos despencaram durante esse período. E sobre a violência que se faz presente, quanto mais poderia ser prevenida por restrições na venda de álcool do que de games violentos? A Polícia riria dessa spergunta.”

Quanto ao glorioso Dr. Gentile, trata-se de mais um desses pesquisadores obcecados em provar seu ponto de vista, não importando para isso que tenha que dar um chute no saco da lógica ou enfiar o dedo no olho da razão. Prova disso é que o mesmo Gentile já fez uma experiência parecida que foi noticiada pelo site GamePolitics em junho do ano passado. Como vocês podem ver em detalhes lá, a experiência se perdeu feio em uma pesquisa viciada, cheia de erros de método e desonesta intelectualmente. Obviamente que Gentile foi devidamente esmagado pelo professor associado do Departamento de Ciências do Comportamento da Universidade A&M do Texas, Chris Ferguson:

Então, no máximo um exagero está sendo cometido aqui, e no pior há falhas muito graves em todas as análises. Eu me preocupo com o “tom” desse grupo de pesquisa. Eles não cobrem inteiramente a literatura de forma honesta, e parece haver uma hipótese que eles favorecem desde o início. Esse tom me levaria a questionar a objetividade deles, assim como a qualidade de suas análises.”

Não foi dessa vez, Super Nanny, epic fail para você. E sempre será assim com qualquer tentativa de pânico moral. Essas bobagens nunca se sustentam quando confrontadas com a realidade, mas é incrível como em pleno 2010, gente aparentemente esclarecida insiste com sandices como essa. Assim como também me assombra até onde alguns pesquisadores vão para ter algum destaque. Jo Frost devia ficar de castigo e colocar o chapéu da vergonha depois dessa malcriação.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

12 thoughts on “Pânico Moral: Agora é a Super Nanny quem patrulha os videogames

  1. …até ela falando mal dos games.

    e quem disse que jogos violentos te deixam violento?
    eu mesmo,ja tive90% dos meus games com sangue+violencia,resultado:
    19,solteiro,carinhoso e com uma vida ativa.

    vgs nao te deixam violento,mas um pai que BEBE sim!

    ps:exemplo de pai q bebe,pai do chris brown,ele nao gostava do pai bater na mae dele
    resultado:ele bateu na rihanna!

  2. Que rídiculo isso hehe.
    Até porque, essas “pesquisas” realizadas, são uma afronta para a ciência.Aliás como fazer uma pesquisa sem base??Eles simplesmente fazem por fazer, para ver no que vai dar??
    Fora que o próprio programa da Super Nanny já era questionável.

    Mas, como foi comentado ali pelo jornalista, neurociência é um campo complexo.

    Eu sinceramente tenho minhas dúvidas quanto a muitas coisas, mas prefiro que crianças com até uns 12~13 anos não sejam expostas a certas cenas ou ocasiões.
    Um exemplo é um jogo como Manhunt, que eu acho que não deveria mesmo ser jogado por crianças com menos dessa faixa etária, e olha que já vi pais deixarem o filho de 7~8 anos joga-lo.
    Não acho que seja legal, até porque ela pode não entender algumas coisas, e mesmo com os pais de vigilia, fica difícil de explicar.
    Além de que, existe algum grau influência sim, ainda mais nas crianças, que não são totalmente críticas e agem mais atráves da observação e da “mímica”.
    Só comparar o quanto uma propaganda induz uma criança e o quanto a mesma induziria um adulto para a compra de um produto.
    O problema é saber até onde vai essa influência, e até onde ela contribui de fato para algo.

  3. bom, ela tá certa em uma coisa: os pais que tem que escolher o que o filho vai jogar ou não. Colocar culpa em VG é outra coisa.

    Queria MUITO que aquele vídeo que o menino atira com a arma de verdade e sai chorando no final (depois de 1 tiro) fosse mostrado mundialmente! 😀

  4. Huahua, sem palavras. E eles deixaram crianças jogarem FPS? será que eles não leem as caixas? Existe uma classificação na parte frontal e traseira advertindo que esse tipo de game é para maiores de 18 anos. Que feio hein?!?!?!?!

  5. Ah e esqueci de comentar que experiencias como o que eles fizeram são tão inuteis quanto a do pseudo-documentário Super Size Me. Manipuladora, e que como o Stuart falou, tenta provar mais que a hipotese deles esta correta do que algo científico, não importado a que custo. Tenso!!!

  6. E como eu já disse aqui e lembrei agora, as pessoas tem mania de achar que desenhos e games são para criança. Aqui no meu trabalho, uma colega estava comentando comigo que achou estranho um desenho que estava passando de madrugada, e quando perguntei qual era, ela me disse que era um tal de Rei do Pedaço e que nunca viu passarem desenho a essa hora, que deviam passar pela manhã. Perguntei se ela havia prestado atenção no programa e a resposta foi não. Conclui que se ela tivesse assistido a ele, com certeza mudaria sua opinião hehe.

  7. Oww teste ridículo viu?!! Derrubar um lápis e querer que a criança pegue? Derruba um chocolate pra ver se ela não pega!! Desde que me entendo por gente que jogo todo tipo de game (inclusive os violentos) nunca influenciou em nada no meu modo de agir ou pensar, continuo pacifico como sempre fui. O que determina o comportamento de uma pessoa não é apenas um fato ”isolado” depende de diversos fatores como índole, genética, formação de caráter e meio em que se vive também. Agora, fazer um testezinho mixuruca desse e tirar conclusões disso é patético. Além do quê os pais é que devem monitorar os games que os filhos jogam, até pelo menos ele ter a idade certa para o game ao qual se destina o usuário.

  8. “programa q se dedica a ensinar pais abestados como lidar com seu filhos birrentos” vc definiu bem essa merda televisiva cara, olha cara como nossos avós e pais foram criados e vem essa porcaria dizer q tá tudo errado, e outra somos expostos a violência toda hora, talvez a gente realmente se sensibilize menos, mas com certeza videogame não é o responsavel por esse mal

  9. Não sei quanto a voces, mas certos jogos, aparentemente inocentes, quase me fizeram jogar o controle na parede. Afaste New Super Mario Bros Wii dessa Nanny.

    Comentário do AvcF: Ainda bem que ela não jogou a fase 9-7

  10. hahaha nao tem nexo nenhum jogar uma caixa de lapis no chao e tirar conclusoes acima disso! eles so fizeram a experiencia pra provar o ponto de vista deles, ridiculo isso. cade a etica profissional?
    e nao tm nada a ver dizer que um jogo vai influenciar a personalidade da criança. ela pode ser influenciada pelos pais, amigos, cultura, etc, mas nunca por jogar 20min de um jogo violento.

  11. É incrível, mas o que percebí nos comentarios acima foi uma certa ira e uma tremenda agressividade nas palavras, eu até nao estava concordado com a pesquisa , mas depois que li os comentarios acima fiquei preocupada com a descencibilidade que está acontecendo no mundo inteiro, creio eu que isso não se deve só aos vdg , mas hoje temos varias desculpas para sermos egoistas e sem empatia , parece que o mundo apresenta a formula da felicidade assim — ame a vc mais do que tudo e todos e nao tente se envolver com as necessidades dos outros, assim vc nao vai ter problemas— não conseguimos perceber que este modelo é ilusório, deixa agente seres hedônicos e narcisistas. Necessitamos mesmo é de boas influencias , isso não é uma lição de moral , é tão somente uma percepção minha!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *