Mais uma tentativa de pânico moral fracassa 2 – outro lado da questão

Saudações aos notívagos.

Ainda em relação ao post sobre a pesquisa mequetrefe de Utah, dando uma olhada sobre o tema eu percebi que ainda há o que ser dito sobre o assunto. E infelizmente, no meu entendimento pode se tratar de algo grave. O que vocês lerão aqui não foi publicado em nenhum outro site ou blog brasileiro sobre games. Tudo no link e vamos em frente.

Como vocês perceberam no texto anterior sobre esse assunto, a fonte da notícia foi o site Game Politics, e apartir de lá que fui buscando as informações sobre a pesquisa, etc e tal. Foi absolutamente claro como aquele material não se sustentava, mal começaram os questionamentos e os próprios pesquisadores recuaram e bateram cabeças entre si, em declarações evasivas e auto-defensivas. Está tudo lá, basta lerem. Pois o ponto que abordarei aqui é isso: a pesquisa pode ter sido parte de apenas mais uma tentativa de conservadores em sua luta contra os videogames. Sem histerias nem teorias conspiratórias, explicarei o que quero dizer com isso e os pontos em que me baseio.

Nos Estados Unidos, Utah é considerado como “red state”, o que significa que é um dos estados em que o partido Republicano costuma ter maioria na votações (além de no caso de Utah ser governado por um republicano). Ainda de acordo com uma pesquisa do instituto Gallup feita em 2008, Utah é o estado mais vermelho entre os vermelhos, ou seja, em que a orientação republicana é a mais forte. Na última eleição presidencial por exemplo, John MacCain foi vencedor lá. Paralelamente, ser um estado vermelho também costuma significar ser um lugar cuja população tende a ser mais conservadora, Utah não é exceção a essa regra. Aliás, é considerado um dos mais conservadores.

Boa parte desse conservadorismo deriva da alta religiosidade presente no estado, cuja Igreja Mórmon é a dominante. Apenas para ficar em um exemplo rápido em relação ao conservadorismo, em 2006 o filme Brokeback Mountain foi censurado em Salt Lake City, capital do estado. Segundo uma reportagem peublicada na Uol em 2006, até 1970 a população era 98% branca, além de ser um dos estados de menor diversidade dos Estados Unidos, situação que começou a mudar apenas com a crescente imigração. Ainda na mesma repostagem um dado interessantíssimo:

Utah é predominantemente mórmon desde que Brigham Young e milhares de seguidores se estabeleceram no Great Salt Lake Valley, em meados dos anos 1800,após fugir da perseguição em Illinois, a mais de 2 mil quilômetros de distância. A maioria da população continua sendo mórmon -cerca de 62%- mas tal parcela da população está diminuindo.

Vamos brincar de advinhação: quem produziu o estudo mequetrefe? Sim, amiguinhos, foram professores da Brigham Young University. Pois, agora imaginem o quanto esse pessoal deve amar os videogames e o quanto devem respeitá-los como produto cultural e manifestação artística presente na sociedade.

A proposta de lei

Escrevi as linhas acima com o propósito de contextualizar o ambiente em as coisas estão ocorrendo por aquelas bandas. Escrevo o verbo “ocorrendo” no gerúndio, pois segundo o Game Politics, provavelmente o ano de 2009 começará com uma dura batalha contra o conservadorismo local. E como demosntrei anteriormente no texto, trata-se de um cenário hostil. Explico.

Como o site Game Politics mostrou aqui, o caricato militante anti-videogame Jack Thompson(sempre ele) discursou para o ultra-conservador Fórum Eagle de Utah. O tema da vez lá, além do mesma raivosidade babaca de sempre, foi a sugestão da criação de um projeto de lei que de forma oblíqua seria uma ferramenta de proibição dos jogos. Pelas palavras do próprio Fórum:

Jack Thompson – advogado, lutador da cruzada contra o marketing de midia de materiais violentos para menores, e autor do “Caminho sem danos”(Out of Harm’s Way) – é incentivador de uma futura proposta de lei, que se projetado propriamente e posto para funcionar aqui em Utah, irá parar a venda desses games para menores.

Geralmente, o “Fraud and Deceptive Trade Pact Act” diz que se você vender um produto e dar uma impressão falsa do que é, é simplesmente fraudulento. Walmart, Target e Best Buy assegurarão em seus sites, declarações e press releases que eles não venderão violência destinada a adultos para um menor. Isso é algo que nós podemos impor.

Primeiramente, é fácil notar o ar autoritário e presunçoso da turma ultra-conservadora. É uma lei que além de vaga é inútil, pois já existe um órgão (a ERSB) e uma legislação presente para regular os jogos e a classificação etária deles. Nos Estados unidos, excetuando aqueles que adquirem jogos piratas, ninguém compra um jogo errado por falta de informação. Qualquer um que queria regular o que seus filhos jogam (acho isso legítimo, uma vez que é uma decisão pessoal) tem diversas informações e meios para tal, seja pela embalagem do jogo, site da empresa responsável ou pela própria ERSB. Além de que ninguém é burro para ser necessário que uma lei faça um trabalho que as próprias pessoas podem perfeitamente fazer.

Outro ponto, ainda mais grave, é que ao contrário do que pensam os integrantes do Eagle Forum, Jack Thompson não é mais um advogado, já que ele foi banido da profissão pela Suprema Corte da Flórida em outubro de 2008. Ou seja, não passa de um picareta profissional e moral que continua a dedicar sua vida à odiar e tentar prejudicar os videogames, e por tabela todos envolvidos nesse universo, dos profissionais aos jogadores.

Como ele mesmo não pode protocolar uma lei (se algum estudante de direito ler esse blog e o termo empregado aqui estiver errado, por favor me corrijam), está se valendo de um senador republicano chamado Gayle Ruzicka, um ultra-conservador aliado de Thompson. Até o término desse texto não houve notícia quanto ao andamento da lei em Utah, porém quando sair alguma coisa relevante sobre o assunto, eu dedicarei um post sobre o tema aqui no blog.

Por fim…

Depois do fracasso da universidade, agora está em curso o pânico moral através da politica. A impressão que fica em mim é de que querem vencer em Utah pela repetição. Depois de relacionarem os games com drogas, agora um picareta propõe indiretamente uma lei que na prática visa a censura de videogames. Tudo isso justo em um território que é marcado pelo grande conservadorismo e religiosidade da população. É o tipo da luta que não há como perder, uma vez que caso a proposta fracasse, será apenas mais uma derrota na patético cartel do picareta Jack Thompson, um sujeito tão ridículo e sem credibilidade que é até motivo de piada entre os jogadores pelo mundo (as centenas de montagens e brincadeiras não me deixam mentir).

É isso, vou ficando por aqui. Veremos no que isso derá e quais serão as consequências. Abraços e até a próxima postagem.

4 thoughts on “Mais uma tentativa de pânico moral fracassa 2 – outro lado da questão

  1. Antes fosse, antes fosse…

    O pior é que esse picareta que sequer honrou a PRÓPRIA profissão não desiste de sua luta nefasta. O que eu gostaria realmente se saber é a quais interesses esse sujeito atende ao atacar repetidamente os videogames. Não acredito ser apenas por puro conservadorismo e ignorância.

  2. umas das poucas coisas que invejo dos americanos(alem do futebol americano q jogo ^^)
    é o controle dos pais sobre o que os filhos jogam
    concerteza eu vou controlar o que meus filhos jogarão quando tiver um(ou eu 1 tenho e nao sei oO XD)
    pois eu quando era menos eu era muito nervoso,e vivia jogando mortal kombat ¬¬
    e nao quero isso pros meus filhos!!!!

  3. Então pessoal, não vamos generalizar, hein… A Igreja Mórmon é politicamente neutra (não apoia partido nenhum) embora seus membros são encorajados a serem filiados e politicamente ativos. Sou mórmon desde criancinha e jogo GTA desde uns seis anos (ou mais), além de outros jogos. Não votaria no candidato do Bush nem fu*** e nem sou tão radical sobre games e entretenimento assim. O problema é que existem pessoas (especialmente em Utah) que acham que o que é da cabeça deles é doutrina da Igreja. Isso é a coisa mais besta do mundo. Esses professores da BYU estão levando para a imaculada área acadêmica “achismos” religiosos deles mesmos, o que é incrívelmente errado e contrário às regras do mormonismo, onde cada um é livre para fazer o que bem entende, desde que não ofenda a seu próximo. Sei lá… esses caras tão falando besteira…

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