Game Contraste: Shatter Hand – NES

Saudações aos seres moleculares.

E vamos a mais uma viagem no tempo dos consoles 8-bits, naquela época em que achávamos o máximo jogos com 16 cores e televisões de tubo eram tudo o que tínhamos para ver nossos amados joguetes. Desta vez porém, não se trata de uma atrocidade como o jogo dos X-Men, mas sim um game competente e bastante divertido e desafiador do NES, Shatter Hand, da Jaleco.

Tal qual Astyanax, Shatter Hand é mais um dos jogos da Jaleco que apesar da qualidade acima da média (para os padrões da época, claro), não obteve tanto destaque quanto outros títulos de sucesso lançados para o 8-bits da Nintendo. Com tantos clássicos, até que não me admira que Shatter Hand tenha ficado a sombra de um Ninja Gaiden ou Castlevania, o que por outro lado não chega a ser um demérito. Talvez um dos motivos para o jogo não ter sido tão popular possa ser essa mostruosidade que vemos na capa. é sobre ela que falarei agora.

Para efeito de contextualização, Shatter Hand é mais uma daquelas versões modificadas de jogos japoneses, tão comum nos anos oitenta. Talvez, na cabeça dos produtores, isso fosse necessário para tornar os jogos mais palatáveis e compreensíveis (afinal, pensar cansa e dá trabalho) para os gordinhos estadunidenses que poderiam ficar traumatizados em ter que ler o nome Tokyuu Shirei Soul Brain. Como o nome sugere, esse era mais um daqueles seriados japoneses estilo Tokusatsu, que passaram as pencas principalmente na extinta rede Manchete, nos já longínquos anos oitenta (baralho, me senti velho escrevendo essa frase). Aí que o problema começou, ao menos no departamento de design do pessoal da Jaleco (sempre ela e suas capas horríveis). Como teriam que tirar o super herói com armadura espalhafatosa do original, resolveram trocar por um garotão pimposo com essa linda jaqueta verde limão super transada. Chique no úrtimo.

Agora dêem uma boa olhada (mas sejam breves, pois há risco de enjôo) na peça aí da capa. Agora me digam se o cidadão aí poderia ser levado a sério por qualquer vilão com o mínimo de dignidade, ou ainda, se um sujeito desses teria qualquer cacife para salvar o mundo ou coisa que o valha. Alguém conseguiria realmente achar que esse clone do Daniel misturado a algum cantor de churrascaria com sérios problemas intestinais conseguiria de fato alguma coisa além de constranger quem o vê? e Porque ele precisa fazer essa cara ao dar um soco? Doeu tanto assim? Pior que isso denota a outro problema, já que o genial designer ao fazer essa maravilhosa ahn…”arte”, quis mostrar o óbvio que já era dito no logo do título do jogo (shatter significa partir, estilhaçar, Shatter Hand seria algo do tipo “punho destruidor”). Isso porquê a donzela já rasgou a mão. O resto é de uma belezura só, com esse horrível céu alaranjado que mais parece uma foto aérea de uma cidade poluída, sem esquecer do lindíssimo óculos rayban de camelô, que só faltou um distintivo do Flamengo ou do Corinthians entre as lentes para ficar ainda mais malaco.

Passado o trauma dessa atrocidade em forma de capa, o que temos é um belo jogo, um projeto competente, cuja qualidade fica a par de clássicos como Ninja Gaiden 2 e Vice: Project Doom. É um game de ação intercalado com momentos de plataforma, com bom nível de dificuldade e level design variado e bem feito. Por falar em fase, o jogador de cara é jogado no primeiro estágio, mas passado esse desafio, pode-se escolher os estágios seguintes. O visual é acima da média para o NES, com sprites bem animadas, cenários detalhados em estilo um tanto futurista e industrial, paleta de cores coerente a proposta gráfica e a trilha sonora é bem bacana, com algumas musiquinhas capazes de grudar na cabeça. Não chega a ser memorável, mas eu achei que ficou muito boa no geral.


Imagens a esquerda: Soul Brain. Já as da direita são de Shatterhand.

O esquema de jogabilidade é simples como quase tudo da era 8-bits, um botão para pular e um para dar soco (é o único ataque do herói). O único elemento variável nesse sentido é uma espécie de robô auxiliar que o jogador chama através do recolhimento de três letras gregas, formando combinações entre os caracteres alfa, beta e ômega. Fazendo essa combinação duas vezes, o robô se transforma em uma armadura que incrementa os poderes do herói. Os chefões, mesmo na versão americana, fazem bem o estilo dos Tokusatsus, com monstros mecânicos, dragões, entre outras criaturas que não me lembro. Apesar de variar no tamanho, poder e nos tipos de ataques, todos eles podem ser vencidos apenas com os socos de nosso poderoso e cafona herói. Claro que um tanto de habilidade e estratégia também são necessários, pois alguns dos chefes são bem chatos de se derrotar.

Por fim, Shatter Hand é o tipo do jogo que vale pelo menos umas partidas no emulador, já que nem no Virtual Console ele está disponível ainda. Se quiserem matar a curiosidade, não é difícil de achar a rom da versão japonesa, tirando meia dúzia de linhas da inútil historinha de abertura, dá para encarar numa boa. O fato é que o jogo é ótimo de qualquer jeito. Só não reparem muito a porcaria de capa que a Jaleco fez o favor de inventar. Abraços e até a próxima postagem.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

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