Especial 10 idéias idiotas 2 – Nintendo 64 Disk Drive (parte 5)

Nintendo 64 Disk Drive

Saudações aos beneméritos.

Não é que já chegamos a metade do ranking da infâmia, da lista da indecência? A quinta geração foi especialmente infeliz para a Nintendo, que embora produziu grandes clássicos naquele período, viu sua liderança de duas gerações simplesmente ruir em pouquíssimo tempo. Na tentativa de dar a volta por cima e reagir frente ao grande sucesso da Sony, a Big N teve uma das idéias mais idiotas de sua história. Vamos em frente com a disgraça.

A história conta que em 1994 a Sega e logo depois a Sony lançaram seus consoles de 32 bits no Japão, e assim iniciaram para valer a quinta geração de consoles, a primeira com a proposta de padronizar os jogos em 3d. Ao invés de entrar de cada nessa então nova fase da história dos consoles, a Nintendo preferiu manter o SNES por mais tempo, enquanto isso investiu em tecnologia de ponta para seu próximo aparelho, então conhecido pelo nome de projeto “Reality”. Lançado em 1996 como Nintendo 64, tudo parecia estar pronto para mais uma geração com a Big N na liderança, que para muitos naquela época era apenas questão de tempo. Embora com dois anos de diferença, e portanto nesse tempo os concorrentes já haviam amealhado uma boa base instalada e catálogo de jogos, o Nintendo 64 começou até bem. Mario 64 encantou o mundo dos videogames com sua incrível estrutura tridimensional, Wave Race e Pilot Wings foram eficientes ferramentas de demonstração do poderio técnico do console, e Mario Kart 64 foi um blockbuster que carregou a tradição iniciada por Super Mario Kart. Pois é, parecia que estava tudo se encaminhando nesse sentido. Só parecia. Mas haviam alguns detalhes incômodos, aqueles já conhecidos e amplamente discutidos, como os limitados cartuchos, a relação autotitária e controladora que terminou por afastar as produtoras terceirizadas, à imagem de aparelho infantil.

Mas de fato o símbolo da virada sonista foi o lançamento em 1997 de Final Fantasy VII, um dos games mais lembrados e reverenciados até hoje pelos fanáticos por RPGs japoneses. Apartir daí, o Playstation engatou a quinta marcha e jamais foi alcançado por seus concorrentes, encerrando a geração com uma acachapante vitória. Por óbvio, claro que a Nintendo não ficou de braços cruzando assistindo passivamente seu console ser espancado comercialmente pelo aparelho da Sony. Nada do que ela tentou fazer funcionou, da parceria com a Rare e seus ótimos games, do lançamento de clássicos como Star Fox 64 e Zelda Ocarina of Time, o cartucho de expansão, nada tirava a Sony da ponta de cima da tabela. Foi então que a Nintendo teve a sua idéia mais idiota daquela geração. Em dezembro de 1999 lançou no Japão o Nintendo 64 Disk Drive, um anexo horroroso e constrangedor, praticamente o Sega CD da Nintendo.

Além de ser feio o suficiente para fazer o Nintendo 64 parecer um videocassete, a proposta do acessório era a mais idiota possível. Além de ter sido lançado praticamente aos quarenta e cinco do segundo tempo daquela geração (até o Dreamcast já havia sido lançado e o Playstation 2 já estava pronto para sair do forno), os gênios nintendistas me inventam de lançar um aparelho de disquetes quando todo mundo já conhecia o DVD. A proposta da Nintendo era sensacional, uma verdadeira promoção-relâmpago das Casas Bahia: para aumentar a memória dos caros cartuchos do N64, os jogadores desembolsariam uma bela grana em um anexo compatível com um disquete a lá Zip Drive (alguém se lembra deles?). Tudo isso aumentar a capacidade de armazenamento para estelares 256MB, isso porque os surrados CDs do Playstation e Saturn guardavam 640MB. Supimpa, né? Eu mesmo acabei de encomendar uns três pelo Ebay. Enquanto que no início dos anos noventa o pessoal que perdeu dinheiro com o Sega CD se divertiu tanto quanto bater a cabeça contra a parede com aqueles imperdíveis filmecos pseudo-interativos, os japonetas contemplados com a feliz comprar do 64DD se divertia infinitamente com mágicos e emocionantes editores de fases.


Eu realmente compraria um periférico só por causa desses desfiles de japas bizarros vestidos de girafa

Pior que fora a idiotice, a idéia nem era mesmo original. O 64DD nada mais era do que uma recriação do Famicom Disk System, lançado nos longínquos anos oitenta. Naquela época o acessório fez sucesso, até mesmo porque os disquetes eram plamente utilizados como midia de armazenamento, e os CDs nem haviam sido lançados. Apesar de também ter sido exclusivo do Japão, foram lançados mais de 200 títulos para o anexo, entre eles clássicos de The Legend of Zelda até NES Golf. O FDS tamb´m foi útil porque seus disquetes permitiam saves nos jogos, algo raro naqueles tempos, de forma bem mais prática que as baterias usadas nos cartuchos, cuja limitada tecnologia as tornavam muito falhas e nada confiáveis. Mas aquele foi um outro período, a tecnologia avançou e era óbvio e ululante que reciclar a mesma idéia jamais daria certo em um mundo já dominado pelas baratas e eficientes midias ópticas. Fora que como a história dos consoles já havia mostrado, na maior parte dos casos lançar anexos para consoles só servia para dividir e confundir a base instalada, além de nunca terem virado uma disputa comercial. No caso do Famicom, ele já era lider e o acessório só contribuiu para seu sucesso. Um Disk Drive para o Master System não o faria virar o jogo contra o console da Nintendo.

A vergonha causada foi tamanha, que o lançcamento para o ocidente foi cancelado, não fez a menor falta para ninguém, e acho que até passou despercebido. Desde o anuncio, aquele trambolho já exalava um tremendo aroma de insignificância. No fim das contas foi uma idéia idiota que nem mudou alguma coisa naquela geração. Graças ao desempenho surpreendente da Sony e das mancadas da Sega com seu Saturn, pouca gente perdeu tempo se importando com um leitor de disquetes sem graça e sem vergonha. Todo mundo seguiu em frente (a Sega nem tanto) com seus projetos, e já no ano seguinte ao lançamento do 64DD, a sexta geração começava a engrenar com os anuncios do GameCube e Xbox. O irônico disso é que enquanto os nintendistas morrem de rir com os periféricos Sega (e merecem ser malhados mesmo), a empresa do coração desse pessoal também foi assombrada por um acessório-vergonha. Cada um tem o Sega CD que merece.

Abraços e bom fim de semana a todos. Até o próximo capítulo.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

15 thoughts on “Especial 10 idéias idiotas 2 – Nintendo 64 Disk Drive (parte 5)

  1. A Nintendo passou por uma fase ruim entre o lançamento do 64 e o fim do Gamecube, fato. É inegável também, que foram lançadas verdadeiras obras-primas nesse período mas a Nintendo pagou pelas escolhas excêntricas e pelo citado autoritarismo perante as third parties.

  2. Vou discordar um pouquinho: pra não ter nem saído do Japão isso tá mais pra Sega 32x.

    Agora em termos de arrogância da Big N nada se compara com aquela polêmica do Game Genie pro NES.

  3. “A Sega quase lançou um trambolho desses pro Dreamcast também, mas a grana acabou antes.”

    > Aquele trambolo anexo era tipo um zip drive tb???
    Pensei q era um HDD =P

  4. lembrei do ps pocket agora…eu queria ter um quando soube q ia lançar,so q nao sabia q era pra quase nada e so pro japão!
    lembro q li nas revistas q dava pra jogar os jogos do ps na rua ao q falava…mas era um tamagochi com entrada pra memory card!!!

  5. Fernando:

    Os unicos jogos do N64 q exigiam Expansão era Zelda Majoras MAsk e Donkey Kong 64. E Na prática, Perfect Dark tb…

    Pra todos os outros jogos era opcional, apenas pra vc jogar em uma resolução maior 😉

  6. Na verdade, Rodrigo, havia uma lista de jogos que eram compatíveis com o Nintendo 64 Expansion Pak para melhorar a resolução, e não todos os jogos. Acho que a partir de 1998 quase todos os jogos decentes passaram a usar o acessório como opcional, e no caso de Perfect Dark, o grosso do jogo só era liberado com o uso do cartucho. Mas, por exemplo, se eu usasse o Expansor jogando Mario Kart 64, StarFox 64 ou mesmo o novíssimo Conker’s Bad Fur Day, nada acontecia de diferente.

  7. @NitroxxBR:

    No controle eram colocados o rumble pack (que tremia) e o memory card (cartucho pra saves).
    O memory expansion, ou expansion pack, era encaixado na frente do console, debaixo da tampa que tinha.

  8. Tô meio atrasado para comentar aki mas…

    Só queria dizer q o N64DD foi lançado em 1999 não em 2000 e q ele era um projeto antigo da Big (na verdade, jah havia um protótipo dele em 1996).

    Por motivos desconhecidos, a Nintendo atrasou o lançamento dele por anos!!! E isso meio q contribuiu para o fracasso do aparelho!!!

    Se tivesse sido lançado dentro do q tinha sido inicialmente planejado, não tenho dúvidas de q ele teria sido um sucesso!!!

    Pra se ter uma ideia, o jogo de estreia dele seria nada mais nada menos q o Zelda: Ocarina of Time (a Nintendo decidiu lançar ele em cartucho quando percebeu q se esperasse o aparelho, o lançamento de Zelda:Oot seria adiado ainda +!!!).

    O q quero dizer é q o N64DD de forma nenhuma foi uma ideia idiota… Foi apenas uma ideia mal executada!!!

    Comentário do AvcF: Verdade, foi lançado mesmo em 1999, já corrigi. Por outro lado, mesmo se tivesse sido lançado um, dois ou três anos antes, não tenho dúvidas que o acessório seria um fracasso. Meus argumentos já estão elencados no texto, mas simplesmente não tinha como um trambolho baseado em disquetes ter prosperado no auge da era dos CDs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *