Entre mortos e desaparecidos 3: Data East

Saudações aos homo sapiens.

Primeiramente peço-lhes desculpa pelo atraso desse texto, pois o Speedy me largou na mão por quase dois dias. Bom, continuando a saga das empresas mortas e desaparecidas do mundo dos games, o post de hoje conta um pouco da história da Data East, empresa que foi muito presente durante as gerações 8 e 16-bits, tanto nos arcades quanto nos consoles. Texto na continuaçãp do link. Até.

Fundada em 1976, a Data East começou como uma empresa de engenharia elétrica que operava máquinas de fliperama. O trabalho deles consistia na integração de sistemas de fitas intercambiáveis nas máquinas, de modo que caso precisasse trocar um jogo, não fosse necessário trocar todo o gabinete do fliperama (entendam por arcade, ok?). Hoje isso é algo banal, mas naquela época devia ser uma inovação em tanto, pois foi no mesmo ano que foi lançado nos Estados Unidos o Channel F, primeiro console da história a ter jogos impressos em cartuchos intercambiáveis. Três anos depois a Data East entrou no ramo da produção de jogos, fundou uma subsidiária americana, e a empresa pensava grande, já que objetivo era chegar ao nível das grandes da época, como Sega e Taito.

Após superar incólume ao crash dos videogames em 1984, a companhia continuou a fazer seus jogos para arcades e posteriormente para o NES. A princípio eram ports dos títulos dos arcades como Karate Champ, Burger Time, BreakThru, Rampage, Tag Team Wrestling e Ring King, este talvez o melhor game dessa leva, além de ser o único game de boxe a prestar além de Punch Out, embora seja inferior ao game da Nintendo. Porém, antes de continuar cabe fazer um parênteses a um game que é especial a sua maneira. Precisamente em 1988 (foi portado para o NES dois anos depois), foi lançado um dos jogos mais trash e involuntariamente engraçados de todos os tempos: Bad Dudes vs Dragonninja (isso mesmo, foi escrito tudo junto).

Basicamente era um medíocre jogo de ação com um dos enredos mais sensacionais da história do homem na terra: o presidente americano “Ronnie” foi seqüestrado por ninjas (!?), aí um sujeito que parece ser o pai anêmico do Duke Nuken lhe pergunta, enfático: “ARE YOU A BAD ENOUGH DUDE TO RESCUE RONNIE?”. Para não ficar dúvidas, repito em português: “VOCÊ É UM CARA MAU O SUFICIENTE PARA RESGATAR RONNIE?” Além da estranha intimidade com que o Duke “pai” se refere ao mandatário de seu país, o único requerimento para a missão é ser mal-encarado. Nem os redatores do Zorra Total ou da Praça é nossa conceberiam algo tão tosco. Para fechar com chave de ouro, o final do game é magnífico: após espancar hordas de ninjas repetidos e chefões bocós, o sorridente presidente Ronnie convida o herói genérico com sua roupa de ginástica para um saboroso hambúrguer na Casa Branca. A novela Os Mutantes tem com quem aprender quando se trata de encerramento de trama.


Video com o gameplay do jogo. Atentem para o “I’M BAD!” no final da fase. Haja expectorante para o rapaz aí.

Abaixo o não menos incrível encerramento do jogo:

“LET’S GO FOR A BURGER!!!” Essa frase pode ser considerada um epíteto dos anos oitenta.

Os anos noventa

Embora os games da Data East não fossem brilhantes, ao menos eram bem melhores que os da Acclaim, por exemplo. Mas se teve um jogo que talvez fosse o melhor que ela fez em sua existência foi Captain America and the Avengers para arcade e Genesis (a horrorosa versão Super Nes não merece sequer ser comentada). Digo isso, por que também gastei muitas fichas nas fases desse game, além de que foi um dos primeiros que fechei no Genesis. Era um jogo divertido, vibrante, bastante desafiador, um dos mais bacanas dentro de seu gênero naqueles tempos.


THE AVENGEEEERRRRSSSS! Bem melhor que o RIDGEEEE RACEEEEERRRR de 2006.

Mas não é que a Data East passou vergonha novamente nos anos noventa. Desta vez foi por causa do lançamento de um jogo de luta Fighter’s History, talvez o clone mais safado e sem vergonha que Street Fighter 2 já teve. A cara de pau era tamanha que até motivou processo por parte da Capcom, que no fim não deu em nada (até onde sei, pelo menos). Além de sem personalidade, o joguete era medíocre, sem sal e com um elenco de personagens mais patético que as crianças burras que ligam para aquela monstrinha do SBT. Pior que a Data East nem ligou, já que até lançou uma continuação chamada Fighter’s History: Mizoguchi. Isso que é escorregar na jaca com estilo.

Por outro lado, a Data East era extremamente competente em outro campo, o dos pinballs, com alguns títulos excelentes no currículo. Boa parte era baseada em licenças e marcas famosas como Guns N’ Roses, Star Wars, Back to the Future, Batman, RoboCop, The Simpsons, and Teenage Mutant Ninja Turtles. Eu perdi muitas fichas em alguns desses aí, as máquinas eram muito legais mesmo.


Fliperama das Tartarugas Ninja. Bons tempos.

A ida para o vinagre

No final da década de noventa, a Data East estava encrencada com dívidas até o pescoço. Houve uma tentativa de reestruturação, que chegou ao ponto de vender a sua divisão de pinballs para Sega, mas que foi em vão. Em 2003 a companhia foi a falência. No ano seguinte uma empresa japonesa dedicada a jogos para celulares chamada G-mode comprou a maior parte das propriedades intelectuais da antiga Data East. E assim termina a história de uma empresa que teve seu nome como referência de games nos anos oitenta e noventa, tanto para o bem quanto para o mal. Triste mas é verdade.

That’s all folks. Abraços a todos e até o próximo post.

Próximo capítulo: Tradewest/Technos

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

9 thoughts on “Entre mortos e desaparecidos 3: Data East

  1. Sei que não era o melhor ne o mais original jogo de ação cooperativa, mas tanto Dragonninja quanto Two Crude Dudes eram divertidos…A gente disputava pra ver quem chegava mais longe com uma ficha…Como em jogos de pancadaria sem noção da CAPCOM…

  2. É que joguei muito ele, agora lembro claramento do locutor no começo falando “Presented by Data East”. É o único jogo da empresa em que eu consigo lembrar fazendo uma associação direta, sempre fui péssimo com essas coisas…

  3. Eu ainda lembro de um joguinho muito bom que essa empresa fez para o Nes: Werewolf – The Last Warrior…
    Os Joe & Mac também foram muito bons….

  4. Nossa! Depois de meter porrada em um clã inteiro de ninjas, o cara recebe como recompensa um “lanche” com o presidente? Isso é que é heroi hein, para que dinheiro ou coisas do tipo, o negócio é ser humilde. Realmente pavoroso! É os pinballs da Data East são excelentes mesmo, ainda tem um do Star Wars aqui perto de casa. Abraços

  5. Eu até gostava do Fighters History, sabe? Era mesmo um clonaço de Street Fighter II (mas naquela época, o que não era?), mas eu sou bem mais um clone de Street Fighter II do que um de Mortal Kombat – onde as empresas se saem bem pior, já foi historicamente comprovado. E por falar em clones a Data East tinha um jogo que era um clone do Contra, e saiu pros Arcades e pro Mega Drive – e pra uma pá de computadores europeus. Era o Midnight Resistance, e quebrava bastante o galho de quem tinha Mega Drive e não podia jogar nenhum jogo da série contra até 1994 (quando a Konami lançou seu Contra: The Hard Corps pro console).

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