Curiosidade dos games: a oportunidade perdida

Saudações aos contribuintes.

Começei essa semana atolado. Então, aproveito para explicar a razão a vocês, não vejo nenhum mal nisso. Bom, fui selecionado para um estágio no meu curso de design de games, e faço parte de uma equipe que está produzindo um game para uma instituição a qual não posso dizer qual. Estamos em uma parte complicada do processo e isso e tudo o que posso dizer. Dado o aviso, trago-lhes um texto que eu já havia publicado na coluna que tenho no portal MXStudio, o qual compartilho alguns dos conteúdos publicados aqui, bem como há alguns que só estão publicados lá. E por que estou dizendo tudo isso? Apenas para dar uma satisfação a vocês pela falta de conteúdo novo nesse início de semana. De qualquer forma, aproveitem o texto:

Quero lhes apresentar um fato pouco conhecido, mas que teve fundamental importância sobre o mercado de videogames domésticos nos Estados Unidos. Essa história envolve uma oportunidade incrível , que por diversas razões que serão apontadas neste texto, foi perdida. Esse caso envolveu duas gigantes de renome: a Atari e a Nintendo, cujas marcas eram os maiores sinônimos de jogos eletrônicos naquele começo da década de oitenta.

Vamos para o ano de 1983, época em que o mercado de videogames domésticos nos Estados Unidos estava a beira do colapso e vivia uma crise significativa. Entretanto, do outro lado do mundo, no Japão, a Nintendo havia lançado o Famicom com bastante sucesso, e a companhia desejava repetir o feito em solo estadunidense. Na época, a Nintendo ainda era um nome pouco conhecido fora de sua terra natal, mesmo possuindo uma divisão de arcades dos Estados Unidos, seus jogos ficavam à sombra de clássicos como Space Invaders e Pac Man.

Lançar um console doméstico aquela altura parecia suicídio, especialmente em um momento tão delicado quanto aquele que os videogames viviam na terra do Tio Sam. Se nem os consoles conhecidos já não tinham o mesmo apelo, porque um videogame japonês teria? Hiroshi Yamauchi, presidente da Nintendo à época, acreditava na força de seu console, porém sabendo de todas as dificuldades que poderiam ter, decididiu que precisaria de um parceiro americano para lançar o Famicom nos Estados Unidos. Foi aí que surgiu a idéia de propor uma perceria com a Atari.

A proposta era tentadora: a Atari teria a licensa para vender o Famicom internacionalmente, em todos os mercados, exceto o Japão. Em troca da permissão para a Atari lançar o console sob seu próprio selo, a Nintendo receberia royalties por cada unidade vendida, além do controle total sobre os jogos. Parecia vantajoso, certo? Pois a situação não era tão simples, o sucessor do Atari 2600 e 5200, o 7800, já estava em fase de projeto, e obviamente não faria sentido trazer concorrência pesada para sua própria criação.

Ainda sim, Ray Kassar, presidente da Atari à época, resolveu marcar uma reunião com os dirigentes da Nintendo, para discutir a parceria. Após várias idas e vindas durante as negociações, parecia que tudo estava certo e que o negócio iria deslanchar. A Atari estava próxima de fazer um grande negócio, já que caso o 7800 não desse certo, teria um console de renome para distribuir mundo a fora. Mas a verdade é que a Atari bateu na trave mais uma vez em sua história.


Donkey Kong: o jogo da discórdia

Durante a Summer Consumer Show de 1983, a Coleco (principal rival da Atari nos Estados Unidos), fez uma demonstração de seu computador Adam, com a máquina rodando…Donkey Kong, o jogo da Nintendo de maior sucesso daquele tempo. A situação deixou o presidente da Atari irado, uma reunião de emergência foi marcada para tentar solucionar o caso. O fato é que ouve um racha entre os executivos de ambas as companhias e o acordo foi cancelado. A Atari perdeu a grande chance de sua existência para dar a volta por cima no mercado de videogames. Nunca mais ouve outra oportunidade como essa.

O resumo da ópera é conhecido: no ano seguinte houve o crash dos videogames na terra do tio Sam, diversas companhias faliram, Ray Kassar perdeu o posto de presidente da Atari, e a companhia terminou vendida para o investidor Jack Tramiel. Anos depois, a Atari acabou falindo depois de lançar o fracassado Jaguar. Já a Nintendo, lançou o Nes (nome americano para o Famicom) por conta própria, criando um sucesso mundial, pavimentando seu caminho para se tornar gigante dos videogames, título que sustenta até os dias de hoje.

Já pensou se a Atari tivesse voltado atrás e feito aquele acordo? Infelizmente, certas portas só abrem uma vez. Uma vez que fecham, não se abrem mais.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

8 thoughts on “Curiosidade dos games: a oportunidade perdida

  1. Já conhecia essa história.

    O mundo dos games é cheio de histórias interessantes envolvendo o “e se…”.

    Acho que não seria nada bom, depois que o Bushnell saiu da direção, a Atari começou a desandar geral.

  2. A Atari iria afundar a Nintendo a médio prazo (logo a Big N iria ressurgir e dominar o mundo), então imagino a Sega roubando a cena e o projeto Playstation sendo vinculado ao Mega Drive. @_@
    Acho que seria algo por aí.

  3. Provavelmente hoje estariamos falando de como foi bom jogar Enduro no Atari 2600 e de como foi incrível jogar Zelda no Atari 5200. E talvez um Super Metroid no Super Atari.

  4. Venomon disse:
    “Provavelmente hoje estariamos falando de como foi bom jogar Enduro no Atari 2600 e de como foi incrível jogar Zelda no Atari 5200. E talvez um Super Metroid no Super Atari.”

    nao quero nem imaginar isso meu amigo XD

  5. Conheço essa história.
    Meu Deus, cadê meu livro do David Sheff.
    Para quem não conhece, ele escreveu um excelente livro intitulado “O mestre dos Jogos” (ou seria Os Mestres do Jogo?). Onde ele simplesmente conta toda história da “N” desde sua fundação, onde fabricava baralhos “hahafuda” para a Yakuza.
    No livro tem essa fase de negociações ente Nintendo e Atari que não deu certo, penso eu que ainda bem, ou caso contrario ninguem conheceria a Nintendo como ela é hoje. Também sobre a disputa judicial da Nintendo e Tengen(tem um dedinho da Atari nisso também) pelo direito ou não de produzirem seus próprios jogos. Que pra mim só fez melhorar a imagem da Nintendo no fim das contas.
    Bem…. esse livro é raríssimo de se encontrar e por cargas do destino, perdi o meu não sei onde.
    Um amigo tem ele e, penso eu e digitalizar, ou digitar ele.
    Acho que todo “gamer” deveria conhecê-lo.

  6. A edição em português se chama Mestre do Jogo mesmo. Só se encontra em sebos e talvez com alguém que queira vender via Mercado Livre da vida. Eu li os primeiros capítulos pegando pdfs mesmo, esse eu ainda pegarei edição em inglês.

    Esse rolo judicial com a Tengen também é descrito no livro The Ultimate History of Videogames. Procure essa obra (não tem edição em português) que é excelente também.

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