Cool Vibrations especial: The Little Mermaid (NES)

The Little Mermaid

Saudações aos díspares.

O Cool Vibrations será um pouco casual dessa vez. Afinal, na atual era dos rardecores e dos jogos protagonizados por carecas musculosos e suados, empunhando enormes armas de grosso calibre, como é que eu ouso falar de um game…de um game..ahn..de um game… COM UMA PROTAGONISTA FEMININA??? E DE UM JOGO TAMBÉM DESTINADO A MENINAS??? Realmente a minha masculinidade sofreu um abalo nesse instante, mas darei (opa!) um jeito de continuar o texto. Sigam pelo link.

No comecinho dos anos noventa, a Capcom foi responsável pela maioria dos jogos baseados nos desenhos Disney. Nessa leva que saíram jogos como Mickey Mousecapade, Duck Tales 1 e 2, Darkwing Duck, Tale Spin, Chip ‘n Dale: Rescue Rangers 1 e 2, e finalmente The Little Mermaid. Posteriormente houveram games para os 16-bits, mas isso é assunto para outros textos. Sobre The Little Mermaid, falarei desse título além do jogo em si, mas também de como representa uma certa mudança de mentalidade em contraste com o que ocorre hoje. Mostrarei como esse conceito babaca da rardecoridade atual prejudica os jogos. Mais para frente tratarei disso, vamos ao jogo primeiro.

The Little Mermaid é uma mistura da mecânica dos jogos de ação com plataforma e shooter de nave. Parece estranho a princípio, mas foi uma decisão de design acertada por parte da Capcom, já que a protagonista é metade peixe e por óbvio nada ao invés de andar. Por isso mesmo, a estrutura das fases foi pensada levando esse aspecto em conta, e creio que deu certo, em minha opinião. Variando entre progressão horizontal e vertical, as fases se passam em navios abandonados, cavernas sub aquáticas, corais, etc; tendo peixes, estrelas e demais criaturas marítimas como inimigos. Quando disse que o jogo tinha um tanto de shooter, me referia ao sistema de ataque de Ariel, um tirinho que paralisa ou encapsula os inimigos, que pode ser melhorado ao pegar cristais guardados em baús existentes nas fases. No final de cada estágio há o tradicional encontro com os chefes, nada muito dificil, já que o esquema é decorar seus padrões e atingí-los com os inimigos encapsulados.


The Little Mermaid em movimento

Trata-se de um game curto, com apenas cinco estágios e mais um chefe final, mas tinha qualidade similar aos outros games da Disney disponíveis para o NES e também a outros títulos do mesmo gênero. Não foi um clássico, tampouco um game genial, porém era tecnicamente competente e com boa mecânica de jogo. Era um joguete típico de aluguel, para fechar em um fim de semana ao lado de outros bons jogos.

Agora um detalhe curioso nessa história. Estava dando uma lida em algumas velhas revistas de videogame, quando me deparo com uma antiquíssima Ação Games número oito:

Matéria Ação Games

Como a qualidade da imagem não é lá essas coisas, transcrevo a chamada da matéria:

“Baseado no filme de Walt Disney (em inglês The Little Mermaid), este é um game descomplicado, curtinho e gostoso de jogar. Você ajudará a sereia Ariel na luta contra Ursula, uma rainha malvada que domina o fundo do mar. A única arma de Ariel são as bolinhas de ar que saem de sua calda quando ela se movimenta. Use-as para prender os peixinhos e, com as mãos, jogue-os contra obstáculos e inimigos”

Perceberam como o jogo foi descrito? Pergunto a vocês quantos jogos não poderiam ser descritos como “descomplicado, curtinho e gostoso de jogar”. Hoje em dia tal descrição certamente seria aplicada a um jogo considerado casual, embora saibamos o que de fato a expressão casual signifique. Outra coisa que percebo é como a mentalidade gamer regrediu, de certa forma. A revista de onde tirei essa scan é de 1991, portanto dezoito anos atrás. Ainda sim, o jogo não foi menosprezado ou tratado de forma jocosa, com chamadas do tipo “um jogo ideal para a sua irmãzinha” ou “ajude Ariel em um game fofinho e colorido, perfeito para as meninas”. Pelo contrário, foi tratado como os outros jogos publicados naquela edição, ou seja, como mais uma opção para os gamers jogarem. Nada mais do que isso.

Muitos meninos da época (incluindo eu que tinha 6 anos quando essa revista foi publicada) jogaram The Little Mermaid, sem quaisquer dúvidas posteriores quanto a própria sexualidade. A prova disso está na mesma revista:

Top Ten

Quem diria que Ariel seria capaz de não apenas levar a medalha de bronze como desbancar dois medalhões da Sega? COMO É POSSÍVEL QUE UM MASCOTE COOL E RARDECORE COMO SONIC TENHA PERDIDO PARA UMA SEREIA??? Quer dizer que a casualidade tomou conta de São Paulo naquele levantamento? Claro que não é o caso. O que acontece que ainda não havia uma distinção entre os jogos e jogadores, processo que ao longo dos anos terminou na palhaçada atual, com uma auto denominada “classe” formada por jogadores mimados e arrogantes, que se julgam melhor do que outros jogadores simplesmente por passarem mais tempo com videogames. “Ah, então por que você náo joga uma porcaria do tipo Hannah Montana?” Não jogo justamente por ser um produto que reflete essa mentalidade medíocre que impera hoje em dia.

Parece que alguns produtores e designers partem do princípio de que videogame é coisa essencialmente para garotos e homens jovens, e qualquer ser fora desse padrão é considerado um alienígena retardado, logo um casual. Meninas não se encaixam no perfil “tradicional”, e portanto quando algo é desenvolvido para elas, logo se pensa em um produto mais simplório e colorido possível. The Little Mermaid tem vários elementos associados ao público feminino, como um princípe encantado (pela qual a protagonista obviamente se apaixona), uma narrativa que apela mais a sensibilidade do que ao conflito, além de ausência de contato físico violento (popularmente conhecido por ‘porrada’). Mesmo assim, a Capcom não fez um jogo idiotizado somente porque teoricamente mais meninas se interessariam por ele. Não é melhor que Duck Tales 2, mas supera Tale Spin. Ou seja, estava no mesmo patamar que outras produções da Capcom para o NES.

Por isso que sou contra esses rótulos idiotas, porque isso acaba prejudicando os jogos. Por exemplo, quantos deixaram de jogar Cooking Mama só por causa do título? Eu não tive vergonha de alugar The Little Mermaid em 91, mas dúvido, por exemplo, que um representante da geração playstation tenha coragem nem para encarar um Harvest Moon. “Jogo de biba”, dirão. Logo após, voltarão para seus games com carecas musculosos e suados, empunhando enormes armas de grosso calibre, cheio de shaders “realistas”.

E a vida segue.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

8 thoughts on “Cool Vibrations especial: The Little Mermaid (NES)

  1. Concordo completamente. Eu joguei Pequena Sereia também! Excelente!
    Só o comentário do Harvest Moon que sou obrigado a questinar – que jogo CHATO! Meu deus!
    Não conhecia os anteriores.. mas comprei o do Cube (baseado na experiência SimFarmeana) e que tristeza. Fica dando presentinho pra galera, plantando os negócios na mãos… MT REPETITIVO!
    Enfim.. acho que não consegui aderir a idéia de “viver a vida da fazendo” – como era a proposta.

  2. Harvest moon ruleia!!! 😛

    Também me lembro de outros jogos da época que eram muito divertidos, alguns inclusive tinham uma dificuldade infernal, e eram menosprezados pelo titulo ou pelo protagonista.
    Alguem aí jogou “castle of illusion” e “monica no castelo do dragão” (ambos foram motivos de inúmeras tardes na frente da tv) no master system?
    Até hoje, quando falo que foram meus jogos favoritos do master system, me falam coisas como “monica é jogo de menina”, huauhhauhuahua…

  3. não consegui jogar harvest moon pro game boy Oo’ achei complicado demais! huaehuaehueahuaehua

    little marmaid é um jogo legal pra carama e vivo jogando ele no emluador do psp (como micro machines e outros) o/

  4. Hehe, eu não tenho vergonha de jogar nenhum jogo mesmo. Se for bom eu jogo tranquilo sem problemas. O negocio esta em que quase todos os games rotulados Casuais são muito ruins hj em dia, dai nem da pra brincar com coisas mal feitas como essas que estão pipocando por ai. e quanto ao rótulo, eu nem sigo isso, pra mim jogo é jogo, existem os bons e os ruins, voce decide o que pegar.

  5. Harvest moon é muito chato!
    Cooking Mama é bem divertidinho…
    Nessa “mini-lista” de 2 q vc fez no final, eu incluiria o “Super Princess Peach” do Nintendo DS… se não jogou, faça um favor a si mesmo…

    é: “descomplicado, curtinho e gostoso de jogar” 😀

  6. me lembro quando era criança e cheguei em casa com esse jogo na época das locadores e meu irmão me olhou com aquela cara de WTF joguinho da pequena sereia?

    Coisa de irmão mais velho chato e tals, mas depois quando terminei de jogar só vejo ele grudado no controle hehehe

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