Coisas que podiam voltar: games medievais da Capcom

Saudações aos aspirantes.

Estava por esses dias a pensar sobre quais games falar até que me ocorreu uma idéia: ao passar um trailer surrado de um dos filmes do Senhor dos Anéis na tevê a cabo, me ocorreu de falar sobre games medievais. Foi aí que quase que imediatamente me lembrei dos games medievais da Capcom lançados para os arcades. No post de hoje falarei um pouco sobre eles e porque eles poderiam voltar.

Do começo dos anos oitenta até o final dos noventa, o mundo dos videogames viu o florescer e o fim de um dos gêneros mais frenéticos e divertidos: os beat ‘em ups, ou se preferirem em português mesmo, os games de ação. A Capcom certamente foi um das empresas com maior destaque nesse gênero, com clássicos como Final Fight, Cadillacs and Dinosaurs, Captain Commando entre outros que vocês conhecem muito bem e já jogaram aos montes. Dentro desse universo particular da Capcom eu destaco aqui os games medievais que ela fez durante esse período, os quais eram bastante divertidos. Curiosamente, foram por esses games que o beat em up chegou mais perto do RPG, com muita matança, nenhuma frescura e heróis muito diferentes dos emos afrescalhados com crises existenciais que povoam os RPGs japoneses de uns tempos para cá. Falarei um pouco de cada um e porque eles poderiam voltar.

The King of Dragons (1991)

Ao contrário dos outros, esse game eu conheci primeiro no Snes e depois em algum arcade surrado. O jogo tinha um fiapo de enredo que nem perdi tempo em saber qual era, então o esquema mesmo era pegar entre um guerreiro, um clérigo, anão, mago ou elfo arqueiro (não eram personagens de fato, sequer tinham nomes próprios) e sair descarregando o cacete no “monstruário” disponível lá. Até três jogadores simultâneos (no Snes eram dois) podiam passar juntos por florestas, pântanos, montanhas, castelos, cemitérios e cavernas detonando toda sorte de criaturas típicas como dragões, ogros, caveiras, lagartos, e claro, dragões. No lugar dos famigerados frangos encontrados em latões havia baús com tesouros e magias que podiam ser levadas e acionadas quando fosse necessário. O único porém desse aspecto é que para recarregar a energia pegava-se um…morango (agora imagine um guerreiro bárbaro comendo um moranguinho enquanto massacra uma tropa de orcs).

Conforme os estágios eram vencidos, os guerreiros ganhavam níveis que melhoravam os equipamentos ou aumentavam a barra de energia. Na prática a única mudança perceptível era o alcance das porradas e um discreto aumento de dano, o que não adiantava tanto já que os chefes de fase iam ficando cada vez mais resistentes (e uns eram bem apelões também). De qualquer forma, isso era um diferencial em relação aos outros beat em ups, além de dar um pouco de profundidade à experiência de jogo. The King of Dragons era um jogo bem movimentado e com muita ação e intensidade. Valia as fichas gastas ou um aluguel do cartucho do SNES.

Como poderia voltar nos dias de hoje:

Por se tratar de um game que já na época evocava certa simplicidade, poderia ser um título para Wiiware, PSN XNA, desses que custam de 10 a 15 dólares. Com bons gráficos tridimensionais e mantendo-se a perspectiva bidimensional, o clima medieval seria mantido intacto. Um multiplayer para quatro jogadores on/offline ficaria show de bola, assim como poderia facilmente ser feita uma evolução no sistema de ganho de níveis dos equipamentos, além de adição de status diferenciados de força, agilidade, resistência e etc; para cada avatar, de forma a diferenciá-los mais dentro das situações de jogo. Um ranking online e algum modo alternativo como um time attack poderiam contribuir para aumentar a longevidade do jogo.

Knights of the Round (1991)

Lançado no mesmo ano, Knights of the Round é uma espécie de evolução de The King of Dragons. No lugar dos avatares genéricos, você tem o rei Arthur e dois dos amiguinhos da Távora Redonda, Lancelot e Percival. Novamente até três jogadores simultâneos vão à luta, o sistema de ganho de níveis foi mantido (embora aplique mudanças meramente cosméticas nas sprites dos personagens), combos foram adicionados e as animações estão melhores. Houve adição também de alguns trechos em que o jogador pode cavalgar cavalos de batalha, o que muda um pouco a mecânica de jogo nesses momentos, adicionando um tempero interessante na ação. A maior diferença em relação ao título anterior, entretanto, foi a retirada dos monstros e criaturas mitológicas, em favor de uma fantasia mais humana.

Já a curiosidade desse jogo ficou por conta da possibilidade de bater nos tesouros, dividindo-os e assim aumentando o número de pontos conquistados. Sério, até hoje não vejo sentido nisso, seria como se eu pegasse uma moeda de um real, a quebrasse em duas moedas e assim eu passasse a ter dois reais. Tirante essa esquisitice (também os cavaleiros recarregarem suas energias com um prato de salada), Knights of the Round foi mais um divertido beat ‘em up medieval da Capcom, um game divertido e bem executado. Assim como The King of Dragons, o jogo foi bem portado para Snes.

Como poderia voltar nos dias de hoje:

A execução seria parecida com a que expliquei do The King of Dragons, mas dessa vez poderia haver um foco maior no enredo, já que temos pelo menos três personagens famosos (mais personagens poderiam ser adicionados, por que não?). Essa direção abriria a possibilidade de adicionar caminhos alternativos a depender das escolhas do jogador, ou até mesmo missões especiais alternativas (como resgate de personagens ou ajudar algum nobre que está sendo invadido por algum exército inimigo). Novamente, um sistema incrementado de evolução de equipamentos e status dos personagens daria maior profundidade à ação; ou ainda abrir a possibilidade de usar diferentes tipos de armas por personagem (outros tipos de espadas para Arthur e Lancelot e outros tipos de armas pesadas para Percival). Pense nisso, Capcom.

Warriors of Fate (1992)

Dos jogos que falei aqui nesse post, Warriors of Fate foi o que menos joguei. Só conheci esse título via emulador, mas até onde joguei achei divertido e competente. Ao contrário dos outros jogos, esse foi inteiramente baseado em um manga, o que o faz ter personagens e enredo mais bem construído que os outros. Também é o game com mais diferenças entre a versão japonesa e a ocidental, com troca dos nomes dos personagens, cenas cortadas e finais a menos (a versão japonesa tem mais de um final). Falando mais do jogo em si, Warriors of Fate não tem qualquer elemento inspirado nos RPGs, se tratando de uma espécie de Final Fight no Japão feudal. Assim como The King of Dragons, são até três jogadores simultâneos (com cinco personagens para escolher) partindo para a ação em estágios de dificuldade crescente. Aí é aquele esquemão e andar, bater e andar até o final; cuja única variação de gameplay são as porções jogadas com cavalos, da mesma maneira que Knights of the Round.

Como poderia voltar nos dias de hoje:

Licenças de quadrinhos e animes nem sempre são fáceis de adquirir, mas nesse caso nem importaria tanto. Embora a história japonesa seja rica, é muito mal explorada nos games, que na maioria das vezes são aqueles simuladores históricos chatíssimos da Koei. Estou certo que um game de aventura e ação baseado na época feudal japonesa atrairia bastante atenção no ocidente. Da mesma maneira que filmes como O Último Samurai fizeram sucesso, um game nesses moldes traria potencial semelhante. Um com game com bastante foco em lutas de espadas (com muita porrada e sangue também), personagens machões (samurais e guerreiros retratados como meninos andrógenos de cabelos espetados não dá, convenhamos) e algumas pinceladas históricas teria tudo para ser um clássico. Talvez Devil Kings 3, lançamento da Capcom para Wii e PS3 para o ano que vem, consiga isso. Veremos.

Dungeons & Dragons: Tower of Doom (1993) e Shadow Over Mystara (1995)

Tower of Doom e Shadow Over Mystara talvez sejam o mais próximo que os games de ação chegaram dos RPGs. Os jogos foram baseados na franquia de RPGs de tabuleiro Dungeon & Dragons não apenas no nome, mas na presença de diversos inimigos tradicionais como kobolds, hellhounds, harpias, grifos, dragões, manticores, orcs e demais alegorias carnavalescas. Mas não era apenas isso, todo o tema do jogo remetia bastante ao universo típico de D&D, com calabouços, cavernas, baús de tesouro com armadilhas entre outras situações típicas dos RPGs de mesa. O jogo tinha diversos caminhos alternativos que dependiam das escolhas dos jogadores, além de entre uma fase e outra ter lojinhas para comprar acessórios e itens, algo que não tinha em outros beat em ups (exceto pelo lixoso Double Dragon III que cobrava fichas reais para comprar vidas extras).

Podia-se escolher entre cinco avatares típicos dos RPGs entre um humano cavaleiro e um clérigo, um anão e uma elfa, com características bastante distintas entre eles. Não apenas os status de cada um eram diferentes, como as magias que podiam ser usadas e os itens carregados por cada um. Por falar nisso, havia um mini inventário para cada personagem, outra característica ausente de outros beat em ups. Porém aqui não há um enredo claro no jogo e sim missões com historietas de fundo, as quais se desdobravam por uma ou mais fases. Havia ainda uma missão alternativa que culminava em uma dificílima batalha contra um dragão vermelho gigante, até mais poderoso que o último chefe do jogo.

Shadow Over Mystara soa mais como uma expansão do que uma continuação. Dois personagens foram adicionados (um feiticeiro e uma ladra) junto aos quatro da versão anterior, que apenas tiveram algumas mudanças cosméticas nos desenhos das sprites. A única mudança real foi a adição de um sistema de ganho de níveis um pouco mais completo que o que há em The King of Dragons ou Knights of the Round. De resto é o mesmo sistema de escolher alguns caminhos e passar pelas missões ajudando pobre inocentes da terra média e enfrentando criaturas fantásticas. Falando sobre as duas versões de Dungeons & Dragons, o mais interessante é que se tratou de “quase RPGs” jogados nos arcades, cuja esmagadora maioria dos jogos são experiências curtas, os jogos são produzidos de forma que o jogador possa extrair o máximo de diversão com uma ficha ou moeda. Outro detalhe é que até onde sei, Tower of Doom e Shadow Over Mystara são os únicos video games prestáveis sob a marca Dungeons & Dragons.

Como vocês puderam ver na imagem, a Capcom lançou uma coletânea com os dois D&D em um disco para Sega Saturn.

Como poderia voltar nos dias de hoje:

Sabemos que RPG não é problema para a Capcom, então não seria complicado fazer um game baseado em Dungeons & Dragons trabalhado com o nível de produção médio de um game atual. Mas ao invés de fazer um RPG puro, poderia-se manter o esquema de missões e fases dos arcades, com toda a ação também. Os avatares poderiam ser expandidos por um editor, mais ou menos da forma como ocorre com Dragon Quest IX do DS, permitindo ao jogador customizar as características de seus personagens. Um modo cooperativo online à lá Resident Evil 5 cairia como uma luva para um jogo como esse (sem esquecer do coop offline também), e como é possível ver por qualquer video da versão arcade, dois ou mais jogadores simultâneos torna o jogo mais dinâmico e fácil. Um ambiente tridimensional poderia contribuir à mecânica de jogo, já que os jogadores teriam que se preocupar com hordas inimigas vindos por todos os cantos, e toda a sorte de armadilhas que se aproveitariam de diferentes profundidades e relevos dos cenários.

De resto bastaria evoluir a estrutura dos games de arcade, aumentando as diferenças entre forças e fraquezas entre as classes e raças, bem como os combos, ataques e defesas especiais e magias. Imaginem uma batalha contra o dragão vermelho com as possibilidades dos games atuais. Haveria um potencial enorme aí.

A única forma de os beat em ups voltarem é sair dessa coisa de remakes com gráficos HD e incluírem novas propostas em seus gameplays. Dessa maneira, alguns temas podiam voltar sob as características que listei por todo esse post. E vocês o que acham disso tudo?

Abraços e até o próximo post.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.

15 thoughts on “Coisas que podiam voltar: games medievais da Capcom

  1. É uma tristeza mesmo… depois que a capcom abandonou a placa cps2 foi o fim beat up e dos jogos de tiro em 2d…

    Algumas empresas tentaram manter esse tipo de jogo, caso da PGM com o Knights Of Valour que saiu até para Atomiswave

  2. é… os beat’em ups estão em extinção… infelizmente. Pra mim é um dos sistemas de jogos mais divertidos ja lançados. Não se fazem mais novos e o ports dos antigos não são dignos dos originais (vide o Turtles in Time do PS3). Por isso ainda mantenho meu SNES vivo e funcionando.

  3. Cara, adorei a postagem sobre esses games antigos da CAPCOM.

    Mas senti falta de um deles aí: o Black Dragon!!! Tbm conhecido como Black Tiger nos EUA. Ambos lançados em 1987.

    Como esquecer essa pequena pérola que a CAPCOM fez? Ainda me divirto muito com ele no emulador de M.A.M.E.

  4. Acredito que os Beat´em up não dariam tão certo quanto antigamente. Hoje em dia vimos coisas melhores, jogamos games mais elaborados, e acho que não gostaria de mais jogos assim. Na época do Snes eu gostava muito desse genero, já hoje o que o substitui são os games na linha LEGO e Ultimate Alliance, e já não sou muito fã deles.

  5. é coisa de época, não acho que os jogos Beat´em up estariam hoje fadados ao limbo. Nesse aspecto concordo com Malstrom, a era dos videogames cinematográficos está acabando e seria interessente esses jogos aparecem refeitos hoje em dia. Eu, pelo menos, estou cansado dos consoles imitarem os jogos de computador: single player é pra computador, sobretudo. Os consoles deveriam cultivar os coop offline e online e por que não misturar os dois?

    1. Não há nenhum gênero de jogo que não possa se adequar aos novos tempos e continuar atraindo os jogadores. Não faz muito tempo e tinha gente por aí decretando o fim dos jogos de luta com mecânica 2d. Pois bem, Street Fighter IV está aí e já tem até expansão anunciada. The King of Fighters XII saiu faz pouco tempo e tem esse Blaz Blue que tem cara de que será interessante.

      Com os beat em ups é o mesmo esquema. Se não houver uma atualização no design desse tipo de jogo, a molecada nova não se interessará mesmo. E falo do design mesmo, mecânica de jogo, visual, conteúdo; não adição de uns filminhos pré-renderizados.

  6. Ainda tenho meus knights of the round, maximum carnage e golden axe (esse no virtual console). Os cartuchos de snes são insubstituíveis!

    Caras… os beat’em up ainda não morreram, mas estão em coma profundo!
    Contra rebirth, muramasa (quase um jogo do gênero) e spyborgs vivem! Também teremos samurai warriors 3 e um novo devil kings. 😛
    Infelizmente, essas imitações 3d dos beat’em up são tudo o que restou do gênero.

    Mas sinto muita falta de jogos de ação sem malditas armas de fogo e alienígenas cinzentos invadindo a terra, jogos de ação que não sejam versões em terceira pessoa dos fps mais famosos.

    Ouvi falar muito bem de wet, resolvi testar o jogo, e depois de 15 minutos gritando blasfêmias contra a maldita mira, desisti do jogo pra sempre.

    Chega de jogos de tiro!!!!

  7. Jogo King Of Dragons no SNES até hoje. Se não me engano, tem uma coletânea pra PSP com King Of Dragons, Knigths Of The Round e mais um que ficou faltando no artigo: Magic Sword.

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