Batalha das Cópias

Saudações queridos leitores e leitoras.

Como puderam perceber (ou não), estive menos no blog nos últimos dias, absolutamente atarefado pelo trabalho final de semestre da faculdade. Então, resolvi então publicar um trabalho desse tipo aqui (produzido no semestre passado) dividirei com vocês os processos que passei para realiza-lo. Bom, sou aluno de design de jogos, no semestre que estou o trabalho principal era a realização de um jogo de tabuleiro completo, com regras, mecânica de jogo, arte, peças, enfim, um modelo totalmente jogável. O que isso tem a ver com videogames? Muita coisa. Excetuando as limitações dos suportes de cada tipo (analógico e digital), o processo de criação dos dois é bastante parecido, mesmo porque ambos são jogos. Neste post eu descreverei de forma resumida todos os estágios de criação que tive para criar o Batalha das Cópias.

Vamos lá:

O conceito

Por exigências do curso (que não cabe discutir aqui), tinha que escolher um tema entre alguns previamente determinados pelos professores, então o foi escolhido consumo como a base conceitual do jogo. Dentro do tema resolvi tratar da infame pirataria e os alunos do curso de games foram escolhidos para fazer uma pesquisa. O que se constatou foi o óbvio, quase todo mundo tem games piratas, e mesmo em um curso de design de games, vários a defendem(com aqueles sofismas de sempre, mas enfim). Em cima desse cenário, resolvi que tinha que fazer o tabuleiro tratar desse tema. Foi aqui que a idéia começou a de fato nascer.

A idéia

Para formular a idéia para a criação do sistema de jogo, algumas perguntas importantes foram feitas:
– Como inserir o ato de comprar jogos piratas dentro da ação central do jogo?
– Como tratar de um tema tão polêmico dentro do contexto de um jogo?
– Como inserir essa realidade sem que tire o fator diversão que um tabuleiro tem que ter?
Antes de começar a planejar todos os elementos que compõem a estrutura do jogo, coordenei meu grupo para fazer entrevistas com alunos do de outros períodos de nosso curso (design de games) e de posse dos dados começei reunir possibilidades de como usá-los.

O tabuleiro

O tabuleiro é a parte mais importante desse tipo de jogo, não apenas por ser o suporte, mas por ele servir de base também para todo andamento das partidas, além de participar ativamente do conjunto de regras.

Essa é a primeira versão, aqui a idéia era criar uma abstração de um ambiente urbano, com quatro zonas (representadas pelas cores, ao invés de direções), cada qual com seus camelôs e um shopping popular cada. Os shoppings populares foram criados para serem representações satíricas dos grandes centros de comércio popular de São Paulo, como o Shopping 25 de Março ou a Galeria Pagé. Aqui a ação central do jogador seria trafegar pelo tabuleiro e comprar os jogos piratas em cada Shopping; para atravessar de uma zona para outra, o jogador precisava alcançar as casas batizadas de ponto de ônibus. Então, essa primeira versão foi batizada de Stand Tactics Center, em alusão a galeria de lojas pertencentes ao mega contrabandista Law Kin Chong, que ficava na Avenida Paulista.

Por ser o primeiro protótipo, naturalmente havia uma série de limitações e problemas a se resolver, por exemplo, as casas que serviam para passar de uma zona a outra acabavam mais atrasando do que de fato adicionando algo no jogo, além disso, não havia uma razão que motivasse o jogador a atravessa-las. Outro problema básico era a ausência de obstáculos às ações, um elemento de conflito. Inicialmente pensou-se em criar dois tipos de papéis aos jogadores, os “pirateiros” e os policiais (batizados de “rapa”), porém, a idéia foi descartada, pois essa divisão de papeis provavelmente geraria conflitos desnecessários antes de começar uma partida. Aí veio a segunda versão do tabuleiro:

As quatro zonas ficaram mais distintas, houve um belo upgrade gráfico, com inspiração no estilo pixel art, com grid em visão isométrico que lembrava jogos como Sim City. Os pontos de ônibus foram eliminados e cada Shopping passou a ter um tipo de jogo próprio, com a cor referente a sua zona, criando quatro tipos de jogos para obter, resolvendo o problema da ausência de razão de trafegar entre as zonas do tabuleiros. Outro problema corrigido foi da movimentação extremamente limitada da primeira versão, já que o grid era bastante extenso e dava opções de movimento aos jogadores. Mas ainda não estava no ponto, ainda haviam problemas. O caráter isométrico do tabuleiro criava sérios problemas de visualização, dependendo do ângulo de visão do jogador, além que mesmo as casas sendo transparentes, elas criavam certa confusão visual, pois dependendo de onde passava o peão, parecia que a peça “atravessava” uma casa.

Enfim a terceira e final versão:

Aqui, o desenho retangular da primeira versão foi retomada, mas com uma adição fundamental, que foi a distinção dos quadrados do grid, entre brancos e cinzas. O jogador se movimenta pelos cinzas (que batizei de avenidas) e nos brancos, o jogador ganhou a possibilidade de colocar as casas da forma que lhe for mais conveniente. Essa funcionalidade abriu um leque de customização muito legal, pois os jogadores nunca montam o tabuleiro da mesma forma, eliminando o caráter linear que os tabuleiros costumam ter.

Os desafios do jogo

Todo jogo, seja ele analógico ou digital, precisa ter um ponto de conflito que desafie os sentidos do jogador. Como mencionei antes no texto, esse era o principal problema do primeiro protótipo. Como a idéia de divisão de papéis não deu certo, tinha que partir para outra proposta, então a policia passou a ser um elemento do jogo, não como npc (non playable character) mas como um obstáculo para atrapalhar os jogadores. Justamente pelo fato da pirataria ser uma atividade ilicita (quer vocês queiram ou não) e pelo motivo dos jogadores terem a necessidade de sair de suas casas em busca dos jogos, eles precisavam correr riscos e eles foram surgindo na forma de diversos tipos de contratempos, como assaltos, batidas da policia, enchentes, etc. A melhor forma de abrigar esses acontecimentos foi a criação de um sistema de cartas, divididos em dois tipos, as de evento e de efeito:

A primeira cria acontecimentos que afetam todos os jogadores, de forma positiva ou negativa. Já as de efeito são aquelas que os jogadores guardam consigo, utilizando-as para obter vantagem ou simplesmente para ferrar com os outros. Esse sistema se provou extremente importante, pois adicionava uma bela gama de estratégias, além de adicionar profundidade ao sistema de jogo. Outro fator importante é que através dela que o jogo ganha seu aspecto cômico, com textos sarcásticos e situações de deboche com a nossa realidade vigente, como o texto da carta “esquema com o judiciário”:”Os Shoppings Populares se uniram, realizando um esquema conjunto de compra de juízes, impedindo a policia de agir. As cartas Denúncia e PM Amigo não funcionam durante esta rodada.”

Como puderam perceber, não era objetivo do jogo em hora alguma ser de algum modo sério ou tentar passar uma mensagem educativa e/ou moral. Todo o sistema funciona como uma grande paródia de nossa realidade cotidiana como gamers no Brasil. Por esse motivo que situações como subornos, corrupção de policiais e o famoso (e infame) jeitinho brasileiro.

A estética

Além da já mencionada inspiração no pixel art, procurei dirigir a parte gráfica do tabuleiro para um estilo bastante cartoon, com ilustrações de personagens em traços bastante caricatos e uso de cores simples e chapas, dando um tratamento bastante colorido mas sem excesso de detalhes. É possível perceber essa estética nas ilustrações das cartas, bem como na arte da caixa e no manual de instruções que tinha que vir junto do protótipo final.Além do óbvia questão de optar por esse tipo de recurso gráfico para obter uma não seriedade, eu queria que o jogo fosse visualmente agradável a todo tipo de público, objetivo esse que os cartoons tradicionais costumam alcançar.

Resumo da ópera:

Após o nome Stand Tactics Center, um colega do meu grupo sugeriu uma mudança para “Corrida das Cópias”, que depois foi mudado para o final “Batalha das Cópias”, pelo fato de que o jogo tem uma proposta bastante competitiva. Outro ponto para esse nome é o fato de que o jogo possui uma duração fixa, de 20 rodadas, para que a experiência de jogo fosse intensa mas que não tomasse tempo demais dos jogadores, ainda mais nos dias de hoje, que a atenção é cada vez mais divida em uma série de atividades. O resultado final da mecânica ficou dessa forma:

– de dois a quatro jogadores

– duração sempre de 20 rodadas

– os jogadores se movimentam dentro do grid cinza, cuja direção é livre.

-cabe aos jogadores comprar jogos nos Shoppings e camelôs, afim de conseguir a maior quantidade e variedade de jogos (são quatro tipos, um de cada cor/zona), além de fazer de tudo para escapar das adversidades das cartas de evento e efeito.

Enfim, é isso. Isso porque foi um protótipo de um jogo de tabuleiro, imaginem um grande video game com orçamento de milhões de dólares. Fora que não foi nada fácil coordenar mais três colegas e juntar todas as idéias e sugestões para transformar em um jogo.Pois é amiguinhos, isso é só o começo. Ainda ficará mais divertido. Até o próximo post, espero que tenham gostado.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time

7 thoughts on “Batalha das Cópias

  1. hmmm
    nao compro jogo original pra ps2 pq custa 240 reais
    mas compro os de pc q tem por 15 e 99 reais

    ps:pirataria nao estraga o leitor
    ps2:qualquer “midia” ja o deteriora!!!
    ps3:pirataria e ruim,mas nem todos sao ricos!

  2. Você não é obrigado a comprar um jogo por R$ 240, por isso que existe Mercado Livre, promoções, além dos usuários de fóruns que fazem rolos, trocas e vendas. Basta procurar. Fora isso ainda tem sites como CD Universe e Play-Asia que importam para o Brasil, tornando o custo de um original mais palpável.

    Pirata estraga o leitor sim, assim como um chip de destrave mal feito. Se a midia for sem vergonha e mal gravada, força o canhão, estragando o aparelho a médio/longo prazo.

    Pirataria pouco tem a ver com condição social, fato este comprovado por pesquisa recente que mostrou que os maiores consumidores de pirataria são consumidores das classes A e B. Se você não tem dinheiro para adquirir algo, junte para podê-lo ou não compre.

    Abs.

    AvcF

  3. Deve ser levado em conta tb a que parcela da população mundial os direitos autorais beneficiam, pois no modo de produção capitalista ela so serve para garantir a apropiação privada do excedente econômico produzido!

  4. Lembro deste texto antes do cataclisma ocorrido aqui, por isso nem li de novo. Mas já vi que já começaram a falar da pirataria. Então só pra não perder o costume vai o meu pitaco sobre o assunto:

    1) Quanto a produto pirata estragar o leitor: na verdade o que estraga o console não é a pirataria e sim uma mídia ou chip de má qualidade. Se o que tem na mídia é um jogo pirata ou um monte de fotos suas não importa, se a mídia for ruim vai estragar do mesmo jeito. O problema tá no produto e não no ato;

    2) O cara não ter grana e comprar (ou baixar, que pra mim nem deveria ser tachado de pirataria, mesmo que ilegal) vai, mas riquinho fazendo isso é falta de vergonha na cara mesmo, sem desculpa;

    3) Ficar falando para comprar de fora, que se não tem dinheiro e não compre coloca a pessoa no mesmo saco de quem pirateia. Dizer que faz sua parte e tocar um “foda-se” pro resto não vai resolver nada, e o mercado vai continuar da mesma forma que está. Eu já cheguei a conclusão que nessa história ninguém está interessado em soluções e sim em tirar “o seu da reta”;

    Enfim, essa história de a favor e contra a pirataria já tá no mesmo nível das brigas de “istas”, um monte de gente brigando sem saber o porque apenas por brigar e poder dizer que está certo.

    Opnião.

  5. Hmm
    tenho boa condição economica
    porem nao acho justo o preço
    e geralmente eu testo os jogos piratas q compro
    nao saio por ae e compro o primeiro q vejo
    testo na “loja” e vejo a midia
    ~~

  6. ps:chip de destravamento pode sim danificar
    porem e so vc comprar um chip bom
    matrix,thunder e talz
    invejo o 360 o destravamento dele e por firmwire(acho q escreve assim) de acordo com meu amigo

  7. Pau no c* dos pirateiros. Consigo comprar jogos originais baratos no Mercado Livre. Tenho alguns piratas, mas são os que menos jogo. Quando se consegue algo melhor, parace que valorizamos mais. Tenho mais de 20 jogos originais do PS2 que ainda não joguei, pois justamente levo tempo tentando extrair deles tudo o possível (fechar 100%, conseguir desbloquear os extras etc.). Coisa que não tenho prazer em fazer no pirata. E não sou riquinho, apenas faço o que é certo. Certa vez, consegui comprar no ML 17 jogos originais do XBox por R$ 200,00.

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