Artigos traduzidos: Iwata não é o problema da Nintendo, Miyamoto é

Saudações aos leitores.

Segue após o link a tradução de um recente artigo publicado no site Eurogamer que trata o atual momento da Nintendo por uma ótica diferente do resto que vemos nos sites que cobrem games. Aqui o autor fez uma análise sobre os jogos e seu responsável maior, Shigeru Miyamoto, que costuma ser tratado como uma figura inimputável por muita gente (se duvidam, vejam os rardecores pirando por conta da crítica ao game designer). Enfim, cliquem no link para irem direto ao assunto.

Iwata não é o problema da Nintendo, Miyamoto é
Uma carência de novas idéias para jogos é o que está detendo a Nintendo.

Por Oli Welsh

O emprego de Satoru Iwata está na reta. Você pode confirmar, pois ele tem sido forçado a dizer que ele está resistindo. Em passado recente essa situação seria inimaginável. Presidente e CEO da Nintendo desde 2002, Iwata mudou uma empresa à deriva com o explosivo sucesso dos consoles DS e Wii, inovando com os controles de toque e por movimento, explorando novos mercados, ultrapassando as vendas das mega corporações rivais Microsoft e Sony.


Esqueçam Smartphones – o que a Nintendo precisa é algo como isso

Mas agora a Nintendo está encarando uma situação ainda pior que a que vivenciou no início dos anos 2000. O 3DS está abaixo da espectativa, o Wii U é um fracasso, a companhia terá o terceiro ano seguido de perdas e suas ações despencaram. Comentaristas estão pedindo a cabeça de Iwata, apontando para as estratégias quixotescas, relacionamento miserável com as terceirizadas e marketing ineficiente.

Mas talvez – pensando o impensável – há outro famoso figurão na Nintendo que está atrasando a companhia; um homem considerado por décadas como seu ativo mais valioso. Estou falando do lendário game designer, criador de Mario, e gerente geral dos famosos times de desenvolvimento EAD: Shigeru Miyamoto. Ultimamente, ele não tem feito seu trabalho tão bem.

Muito da retórica a respeito da Nintendo comete o erro de tratar a empresa de Kyoto como uma companhia de plataformas, como Sony e Microsoft. É companhia de plataformas também, claro, mas elas são apenas subprodutos da verdadeira vocação da Nintendo. A Nintendo é uma companhia de jogos. Não tem absolutamente interesse no mercado de consoles além de vender video games – principalmente seus próprios video games. É, na realidade, uma desenvolvedora-distribuidora, uma marca autônoma de jogos premium, como a Blizzard ou a Rockstar. Acontece que fazer seus próprios consoles como parte de seu processo de desenvolvimento – porque, tanto em um nível de negócios como filosófico, eu não acho que a Nintendo acredita que vocë pode separar hardware de software. (Que é o porquê de refutar de cara o argumento, embora convincente, de que deveria desenvolver para outras plataformas).


Ou isso.

Então é útil olhar para a situação da Nintendo não da perspectiva de uma companhia de tecnologia, mas de uma produtora e distribuidora de video games. E Shigeru Miyamoto como seu produtor-chefe de jogos. Os trabalhos internos da Nintendo são opacos no máximo, mas nós sabemos que Miyamoto consulta uma ampla gama de projetos, ocasionalmente interage como designer e produtor, e ao lado de seu colaborator de longa data Takashi Tezuca, mantém responsibilidade gerencial por todos os jogos em desenvolvimento. Curiosamente, o irriquieto e com aparência jovem para um senhor de 61 anos é um chefe exigente com uma mente analítica afiada, opiniões firmemente mantidas e um temperamento curto. E ele é o ativo da Nintendo de relações públicas – o mais conhecido e adorado criador de jogos de todos os tempos, um ícone que encarna os valores da companhia e seu recorde inigualável como a produtora dos jogos mais amados e campeões de vendas do planeta.

E bem agora, criativamente, a Nintendo desenvolvedora de jogos caiu na rotina.

Isso é loucura, você deve estar pensando. Vocês não deram 10/10 para Super Mario 3D World e ungiram como seu jogo de 2013? Da incrívelsequênciadejogos de qualidade no 3DS nos últimos 12 meses? A Nintendo ainda faz grandes jogos!

É claro que faz. Na verdade, o compromisso da Nintendo com a qualidade em seus jogos é tão impressionante, além de tão prolífica produção, que acaba obscurecendo seu mal-estar criativo. O artwork nunca foi menos do que caprichada e charmosa. Design é refinado e inventivo. Engenharia excelenta também – algo pelo qual a companhia não costuma levar crédito, ainda que suas prioridades sejam diferentes daquelas no topo da tecnologia de games, mas no canal Digital Foundry do Youtube há uma linha verde sem vibração próxima ao número 60 que defende que 3D World foi um dos jogos mais bem construídos do ano passado. As notas das análises são flutuantes (e eu admito livremente que nós críticos, treinados tão efetivamente para amar a Nintendo e julgá-la por seus próprios altos padrões – muitos de nós desde a infância – são parte desse problema).

Mas considere isso: cada um dos jogos brilhantes que a Nintendo lançou em 2013, foi feito antes de outro jeito. 3D World pode ser uma deslumbrante sequência de pequenas idéias de gameplay, mas grandes idéias têm estado visivelmente ausentes dos lançamentos da companhia nos últimos anos – completamente tanto no 3DS quanto no Wii U. Seu quadro é um catálogo de sequências e reaproveitamentos. O último grande lançamento de uma nova marca foi Wii Sports, em 2006.


Ou isso.

Wii Sports não poderia ser um exemplo mais instrutivo. Embora não seja o jogo mais sofisticado na história da companhia, foi um daqueles – Nintendo tem pelo menos meia dúzia como esse em seu nome, tanto como desenvolvedora e distribuidora, incluindo Super Mario Bros., Tetris, Pokémon e Brain Training – que dava o sentido de seu console e vendeu na casa da dezena de milhões. Não foi apenas um jogo matador para o Wii – era o Wii. Megahits subsequentes como Mario Kart Wii deveram todo seu sucesso a isso. Voltando direto para 1981 com a máquina de arcade Donkey Kong, a Nintendo tem repetidamente detonado seus problemas e mesmo criado novos mercados como jogos como esse. Não com aquisições, não com marketing, não com uma estratégia esperta de negócios ou nova tecnologia – mas com jogos matadores.

Então é aqui que chegamos à porta de Miyamoto. Como a luz-guia do desenvolvimento de jogos da nintendo, é sua responsabilidade encontrar jogos assim para o 3DS e – mais urgente – Wii U. Novos jogos. Se ele não faz os jogos – e aos 61, tendo pessoalmente produzido vários desses clássicos que definem uma era, de Donkey Kong até Wii Sports, ele tem a permissão para ser usado – então ele precisa incubar talentos mais jovens que possam, e encorajá-los para trabalhar em novas e ousadas idéias para a Nintendo, por todo seu tradicionalismo, que ele sempre abraçou.


Ou isso.

Miyamoto disse em entrevistas que o item descrito acima é seu foco principal nesses dias. Ele teve um grande sucesso nessa área – o estabelecimento do braço da EAD de Tókio, um time jovem de talento quase obsceno. E o que eles têm feito? Jogos de Super Mario. Elaborando o legado do mestre.

Consciente que a audiência casual atraída com o Wii e DS pode não estar mais presente, e com a necessidade de fortalecer sua tradicional base de fãs, especialmente no Japão, a Nintendo se virou mais e mais sobre suas famosas franquias e sua célebre história em anos recentes. Agora os lançamentos do desenvolvedor se tornaram tão auto-referenciais que são quase pós-modernos. Nintendo Land, o jogo que devia ter sido o Wii Sports do Wii U, era um parque temático virtual de glórias do passado, um carrossel nostágico. A Link Between Worlds, o Zelda mais estruturalmente inventivo em anos, também poderia ser mais novo se não fosse carcterizado como uma sequência de um clássico de 22 anos. O último Nintendo Direct de 2013 foi uma desconcertante parada de velharias, misturas e crossovers: personagens Nintendo, alguns deles um tanto obscuros, invadindo jogos uns dos outros ou cruzando com Dynasty Warriors e Sonic the Hedgehog; a cara de Luigi postada sobre Mario em um remake de um venerável quebra-cabeças; um jogo novo, NES Remix, feito com partes de jogos velhos. A Nintendo não está olhando para frente, está olhando para um espelho, e vendo apenas uma imagem jovem de si.

A própria história da Nintendo prova que ela precisa de novas idéias para continuar lançando jogos de milhões que vitaminam a empresa como um todo. Ano passado eu perguntei a Eiji Aonuma, produtor da série The Legend of Zelda e um dos soldados de maior confiança de Miyamoto, se ele achava que a companhia precisava uma nova série. Ele respondeu que era difícil equilibrar a incubação de novos e jovens talentos com a necessidade de manter as muitas séries da Nintendo que os fãs amam. Eu compreendo, mas eu acho que chegou-se ao ponto em que a primeira tarefa se tornou mais importante que a segunda.


Ou isso.

Parece improvável que Miyamoto pessoalmente não esteja consciente dessa situação. Sua própria trajetória como inovador prova o contrário. Talvez, ao dar sinal verde a tantas sequências, ramificações e curiosidades retrospectivas, ele esteja apenas tentando agradar os fãs e as vendas até quando a próxima bala mágica da Nintendo estiver pronta. Foi dito que ele está trabalhando em uma nova franquia para Wii U, assim como o Tokyo A-Team – talvez no mesmo projeto. Notícias sobre o que eles estão fazendo não apareceram recentemente, eu espero que isso prove que esteja errado.

Mas mesmo se fizer – mesmo se, dentro das paredes da Nintendo, Miyamoto estiver lutando contra os instintos mais conservadores da companhia mais do que preservando-os – talvez seja hora de considerar se sua rica e mererida lenda não se tornou um fardo dourado para os criadores de jogos que trabalham para ele. Ele é uma estrela que não pode ser ofuscada, e suas criações originais se tornaram necessidades para serem servidas por aqueles que o seguem, mais do que inspirações para eles encontrarem suas próprias vozes. Eu não ficaria muito surpreso se o “great man” concordasse comigo, mas nunca pareceu a ele ser o momento certo; seus sucessores nunca pareceram estar prontos. Talvez eles não estejam até Miyamoto sair. Talvez ele, eles, e nós, precisamos deixá-lo ir.

 

 

12 thoughts on “Artigos traduzidos: Iwata não é o problema da Nintendo, Miyamoto é

  1. Concordo que a Nintendo nos últimos anos se tornou uma empresa que vive de lançar mais do mesmo. Claro, sempre com muita competência, mas seus fãs limitam-se a aguardar a próxima sequência de um jogo antigo…

  2. Eu li o artigo quando saiu, achei bem interessante. Mais divertido ainda foi a repercussão dele entre os radicóri.

    Miyamoto é uma pessoa simples e a glamourização de sua pessoa pode ter prejudicado seu trabalho.

  3. Vou fazer um paralelo com uma situação real. Eu trabalho com programação a alguns anos, mas na atual área que estou, ainda estou no primeiro ano. Não conheço tudo, volta e meia preciso de ajuda, mas já me viro sozinho com uma série de coisas. Aqui na empresa existe um programador muito bom, com anos de experiência. Mas diversas vezes eu encontro soluções para os problemas, que claramente são funcionais, mas ele as vezes rejeita por não ser o modo como está a acostumado a trabalhar. E eu acredito que isso aconteça muito com Miyamoto: ele ainda é o designer de jogos fodão, mas não parece ser muito o tipo de aceitar facilmente sugestões alheias, principalmente dos mais jovens (em termos de experiência).

    Outra coisa também: ele tem que sair de qualquer posição que não seja as relacionadas a desenvolvimento de jogos. Ele não pode ter qualquer poder de decisão a nível comercial, e de preferência não deixem ele falar demais nas entrevistas. É um gênio… mas um tanto quanto excêntrico.

  4. Concordo com o artigo. Acredito que nem o Iwata pode ir contra as decisões dele. Ele disse sobre pikmin 3 em 2008 e parece que a Nintendo teve que fazer jogo, mesmo sabendo que nao venderiamuito e moveria hardware.

    É questão de ego. E graças a seu histórico, Miyamoto pode fazer o que bem entender e parece acreditar que tudo que fãz é puro ouro, ja que seu ego foi inflado durante todos esses anos.

    E isso parece mais prejudicar do que ajudar empresa, atualmente. Obrigado por tudo, mas está na hora de se aposentar.

  5. Concordo …em partes com o artigo.

    Na minha opinião a Nintendo vive em um universo paralelo desde a época do N64. Desde aqueles dias até hoje ela colheu mais fracassos que vitoria.
    Quando conquistou vitorias ( Wii e DS ) não conseguiu fazer desse legado algo concreto a ponto de assegurar o sucesso de seus sucessores. Cadê o oceano azul agora ??? Ou melhor , o que vem depois do oceano azul Nintendo ???? Cadê aquela historia da “super estrategia” , porque a Nintendo sabe o que faz , e bla bla bla ….. Cada dia que passa eu me convenço que tudo não passou de uma bela cartada de sorte isso sim. Ok , o pessoal do damage control , vai dizer que mesmo vendendo pouco, a Nintendo teve mais lucros do que Sony e Microsoft e tal , mas a verdade é que o que tem sido mais comum é a Nintendo apanhando e não batendo nesses ultimos 18 anos.
    Camarada Moderado, não é só Myiamoto quem acredita que tudo que faz se transforma em ouro. Oque dizer de seu séquito de fãs baba-ovo ( constantemente em status “Blind” ) que santifica tudo que esse senhor coloca mão ??? Não desmereço a obra do mestre, mas como humano, o mesmo esta sujeito a falhas…..e estas ultimamente não tem sido poucas.
    O problema é o Iwata, é o Miyamoto, são seus fãs Nintendo, que se acostumaram a viver em um mundo à parte, cada vez mais incompatível com a realidade atual, e cada vez mais atrofiada dentro de si mesma.
    Não quero que a Nintendo abandone seus valores, e sua tradição, mas que ela seja mais “aberta” , que dê oportunidades a novas mentes, novos gêneros, apenas isso. Se for pra fazer FPS que faça oras qual o problema ??? Seria um FPS com a qualidade Nintendo, poderia ser bom …. poderia ser muito bom por que não ??? Isso é só um exemplo……..Repensa Nintendo……..repensa .

    1. Tenho dito muito isso. Ultimamente, sempre que a Nintendo vai anunciar alguma coisa, o que mais se vê internet afora é “tomara que anunciem um novo Zelda, um novo Donkey Kong, um novo Metroid…um novo, um novo, um novo…”

      Apesar de serem poucos, muitas thirds tentaram trazer jogos bons para os consoles Nintendo, alguns até exclusivos, mas a maioria falhou miseravelmente nas vendas. Isso por que os fãs estão sempre esperando o “novo qualquer coisa” e nao enxergam nada além disso. Mas do que o Miyamoto, são os fãs que colocaram a Nintendo nessa situação.

  6. Interessante artigo, e um bom ponto de vista, mas está longe de ser a resposta definitiva para a “salvação” da Nintendo.

    Tudo que o artigo disse foi uma forma mais rebuscada do velho argumento “aff a nentendo eh 1 merda pq soh faz mario zelda donke kong eças poha tudo igoal kkkkkk”. Não se pode usar dois pesos e duas medidas. O que a Nintendo precisa é de um jogo bom? Obviamente. Mas esse jogo bom não precisa vir necessariamente de uma nova franquia. A verdade é que o problema da Nintendo é muito amplo e complexo para se apontar o dedo e dizer “é isso!”, como tentam alguns mágicos da análise de mercado dos videojogos. Por isso eu disse que o artigo é um bom ponto de vista: talvez todos os analistas estejam certos ao mesmo tempo, e o problema da Nintendo sejam vários. Talvez todos estejam errados e ninguém ainda tenha visto algo que esteja na nossa cara e seja a salvação da Nintendo. Enfim, só acho que é preciso tomar cuidado quando alguém tenta solucionar alguma coisa apontando o dedo para alguém.

    Ao meu ver, por exemplo, o problema da Nintendo está indissociável do mercado japonês de videogames como um todo. Alguém consgue lembrar de algum jogo japonês relevante nessa sétima geração que não seja Dark Souls? O Japão como um todo meio que desaprendeu a fazer jogos depois do lançamento do Xbox 360. Não só isso. Quem acompanha o mercado de animes e mangás deve ter visto que a venda de DVDs e revistas em quadrinhos cai ano após ano. A Nintendo é uma consequência de um problema muito maior. Dizer que a culpa é do Shigeru Miyamoto, do Satoru Iwata ou de quem quer que seja é diminuir o problema.

    Concluíndo, não acho que o artigo está errado. Estou apenas reforçando às pessoas a procurarem outros pontos de vista.

  7. Sétima geração?

    Que tal wii Sports… engraçado como o pessoal esquece do jogo mais vendido de todos os tempos.

    O que a nintendo fez com ele? Resolveu fazer uma versão de baixo orçamento para download.

    Não se trata o jogo mais vendido da história assim.

  8. O problema da Nintendo não é ser Nintendo, e sim, fazer aquele loby por de trás dos bastidores que a Sony e Microsoft faz. Larga aquela ponta na mão de produtores para eles falarem bem do console, ta em cima de todos os titulos AAA, mesmo pagando para isso, implora para muitas produtoras para lança aquele jogo que custou milhões para seu console. O mercado é outro, nego hoje tem mais orgasmo vendo a potencia do console do que realmente seus jogos. A geração de video game ta ficando cada vez mais fraca em conteúdo de jogos, porque simplesmente eles não são jogadores de video game, e sim, entusiasta de tecnologia de interação. Antigamente quem mandava no mercado de video game era a empresa que fazia o console de video game, hoje não. Hoje quem manda são as empresas que fazem jogos, e elas preferem uma empresa que não saiba fazer jogos para não ofuscas seus grandes títulos que no fundo não são grandes assim. A Nintendo ainda rema contra tudo isso, por isso quando a mesma tentou outros caminhos se deu muito bem (oceano azul).

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