Saudações aos efêmeros.

Quem diria, duas pérolas em uma semana. Desta vez, contudo, trata-se de uma made in Brazil, legitimamente tupiniquim. E justamente como a foto mostra, envolve o Bandai Pippin, um console bastante obscuro. Acompanhem.

Estava eu a dar uma olhada em coisas sobre videogame na internet, quando fui conferir se tinha alguma reportagem interessante no Olhar Digital, um site que trata sobre informática, internet, e o meio eletrônico em geral (por sinal, as matérias deles costumam ser muito boas). Vez ou outra eles falam de videogame, e aí resolvi dar uma olhada se tinha um video interessante sobre esse assunto. Pois entre várias notícias eu achei um video com essa curiosidade aqui:

Caso o video não abra, o link está aqui

Eu já tinha ouvido falar desse obscuro e fracassado console, mas não sabia que alguém aqui no Brasil o tinha comprado para colecionar. Mas aí que comecei a sentir que havia algo de errado com que estava assistindo. Ao alçar um mero colecionador a condição de “especialista” (a forma como é conduzida a matéria lhe deu tal autoridade) e nessa afirmar com absoluta certeza que o Pippin foi um console que não teve jogos, um alarmezinho dentro de mim começou a soar. Foi aí que pensei comigo: “Mas isso não faz sentido. Por que a Bandai manteria um console por dois anos no mercado sem um mísero jogo? Além de que não me lembro de ter ouvido falar de qualquer console que seja que não tivesse ao menos um joguete lançado”. Foi nesse momento que baixou em mim os espíritos de Adam Savage e Jamie Hyneman e resolvi tirar esse recém criado mito a limpo.

Primeiramente resolvi consultar meus livros sobre videogame, e ao olhar o The Encyclopedia of Game Machines, logo encontrei a página onde o Bandai Pippin estava lá devidamente registrado. Não havia ali qualquer menção que aquele console foi um aparelho sem jogos, pior, havia uma informação de que 15 jogos foram lançados para eles. Porém, como não havia foto de alguns desses jogos (apenas um desenho do Ultraman SD), não me dei por satisfeito. Resolvi então mergulhar no Youtube, para ver se havia algum video dos supostos jogos do Pippin. Achei apenas uma referência segura de jogo:

Dragon Ball – AnimeDesigner:

Ainda era muito pouco para detonar o mito da ausência de jogos do Pippin. Resolvi então nevegar pelas catacumbas mais profundas da internet, as quais encontrei diversas referências de listas de jogos do Pippin e informações conflitantes. Muito texto, muita suposição, mas nada de uma prova material. Eu sabia que estava certo, mas ainda faltava aquela prova conclusiva. Após muito procurar e muitou pouco encontrar, foi que me ocorreu um pensamento besta: “Pombas, onde um colecionador procuraria um jogo de um console raro?” Aí não tive dúvidas e corri para o Ebay. E foi então que entre um clique e outro eu finalmente achei essa página:

Essa imagem é um printscreen de uma página do Ebay da Itália com diversas ofertas de jogos do Pippin. Acessem esse link e vejam por vocês mesmos. Pois é sr. colecionador, não apenas os jogos de Pippin EXISTEM, como são baratinhos. E tem mais, queridos leitores, vejam essa página do Ebay francês.

Novamente temos ofertas a lá Casas Bahia de jogos e até de historinhas interativas infantis, tudo ao alcance de um clique e um cartão de crédito internacional (nem a pau que gasto meu dinheiro nessas bombas). Para não restar qualquer sombra de dúvidas, vejam as fotos de alguns dos joguetes em questão:

Se quiserem mais fotos de jogos do Bandai Pippin, também podem acessar essa página aqui com uma espécie do museu dedicado ao console. Lá tem várias fotos das caixas, cds e manuais de uma pancada de jogos que o Pippin recebeu em sua curtíssima passagem por esse mundo.

Para concluir, talvez essa pérola sirva para mostrar o risco que é fazer uma reportagem em cima de uma única fonte, além claro de verificar se essa é mesmo a melhor fonte para a informação que está sendo passada para o público. Pois é, nesse caso o tiozão colecionador mandou mal e acabou produzindo uma pérola direto aqui para o Loading Time.

Vou ficando por aqui. Até mais, amiguinhos.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.