Explicando o pânico moral

Saudações aos constituintes.

Vocês leitores já devem ter percebido que uso com certa frequência a expressão “pânico moral”, sem contudo eu ter explicado de forma clara o que de fato signifique. Aproveitarei esse post para isso, colocando os pingos nos “is” e assim até contextualizando melhor os porquês de nossa midia agir quase sempre de forma boçal ao noticiar casos como o do garoto alemão. Será um texto um tanto longo, aproveitem com parcimônia.

Todos nós que jogamos videogame provavelmente temos a mesma reação quando uma notícia parecida com a que teve recentemente na Alemanha. Assistimos, damos aquele olhar involuntário e expiramos com alguma interjeição do tipo “lá vem bomba…” Isso acontece porque nós já estamos acostumados com toda as reações negativas e aquela velha campanha baseada na ignorância e informações (muitas vezes propositalmente) erradas. Isso que descrevi acima faz parte do processo de pânico moral. Mas afinal, o que significa exatamente esse termo? Explica-lo-ei, meus estimados leitores. Continuemos em frente.

O termo pânico moral é a tradução de da expressão moral panic, cujo autor é o sociólogo inglês Stanley Cohen. Ele cunhou essa expressão quando escreveu o livro Folk Devils and Moral Panics: Creation of Mods and Rockers, em que ele tratou da rivalidade e violência entre os tribos de jovens “Rockers” e “Mods”, fenômeno que ocorreu (creio eu) algo parecido aqui no Brasil quando haviam ataques de skatistas contra os clubbers, ou mais recentemente quando um grupo de emos foi agredido por skin heads. Na época (por volta da década de setenta do século passado), a Inglaterra passava por um período social e economicamente turbulento, e claro que os jovens eram sensivelmente afetados. Sabemos que quando um país passa por uma época ruim, é comum que a sociedade procure culpados, pois é mais fácil arrumar bodes expiatórios do que encarar os problemas de frente. Foi aí que Cohen descobriu o pânico moral.

O sociólogo estudou as reações exageradas e conservadoras da midia e da sociedade em relação aos conflitos dos grupos de jovens, que passaram a ser vistos como uma ameaça a sociedade britânica. Disse Cohen no capítulo de abertura de seu livro:

“Sociedades parecem ser objetos, agora e sempre, a periodos de pânico moral. A condição, episódio, pessoa ou grupo emerge para se tornar definido como uma ameaça aos valores e interesses sociais; sua natureza é epresentada de uma forma estilizada e estereotipada pela midia de massa; as barricadas morais são preenchidas por editores, bispos, políticos, e outras pessas com pensamento de direita. Especialistas credenciados pela sociedade anunciam seus diagnósticos e soluções; formas de confrontamento são envolvidas ou (mais comum) são utilizados para, a condição então desaparecer, submergir ou deteriorar e então se tornar mais visível”

Agora os questiono: tem ou não relação com que os videogames passaram e ainda passam no Brasil e outros países? É incrível como certos setores da sociedade parecem não evoluir nunca, haja vista que o livro Folk Devils and Moral Panics teve sua primeira edição publicada em 1972. Com os jogos eletrônicos, a história não precisou andar tanto assim. Já na década de oitenta, o jogo Death Race foi o primeiro a sofrer um ataque de pânico moral. Anos depois, foi a vez do ridículo Night Trap sofrer o ataque, já que mesmo suas filmagens de terror cômico com qualidade digna das sátiras do Casseta e Planeta foram suficientes para escandalizar idiotas da época. Mas sem dúvida que o primeiro grande ataque de pânico moral ocorreu em 1999 com o mundialmente famoso massacre do colégio de Columbine, nos Estados Unidos. Em 2007 foi a vez do acessório Wii Zapper, aquele pedação de plástico que serve para encaixar o wiimote e o nunchuk lembrando a empunhadura de uma sub metralhadora. Na primeira versão do blog, eu publiquei um texto contando do pânico moral que estava ocorrendo em um jornal de Nova Jersey, cuja a opinião abaixo era a jóia do conjunto de pérolas: “a Nintendo deveria ser multada por introduzir crianças de quatro a nove anos de idade à brinquedos que promovem as armas. Vocês sabem que a próxima coisa que eles incluirão será um cadastro para a NRA (National Rifle Association, a associação de armas dos EUA) no jogo. Quem algum dia inventou esse jogo estúpido deveria ser demitido. Eu NUNCA compraria um produto Nintendo para meus netos de aqui em diante, obrigado por ter trazido isso para minha consideração.

Por aqui, quem não se lembra da proibição do jogo Duke Nuken por causa do caso do estudante de medicina que metralhou pessoas no cinema? Ou da constrangedora reportagem da Jornal da Band que tentou da forma mais capenga possível relacionar aquele caso dos mauricinhos cariocas que espancaram uma empregada doméstica, confundindo-a com uma prostituta (como se isso fosse prerrogativa para bater em alguém), em um ponto de ônibus? Vejam o lixo jornalístico em estado puro (tirem as crianças da sala):


O comentário do Boechat no final é de doer no esfíncter de tão ruim.

Isso é um exemplo claro de pânico moral com tudo que há de direito: ignorância, má-fé, sensacionalismo, preconceito, desonestidade intelectual. Agora outro exemplo, vindo o Jornal Hoje, da Globo:

Em maior ou menor grau os mesmos ingredientes do anterior. Uma reportagem superficial, apressada e parcial, carente do básico no bom jornalismo: informação. Não houve qualquer tentativa de explicar a diferença entre o jogo oficial e um mapa criado por um jogador, inclusive, faltou um mínimo de curiosidade de procurar saber sobre quem o criou. Cheio de erros grosseiros e comentários constrangedores do tipo “o jogo impressiona por seu realismo” e “o jogo foi desenvolvido nos Estados Unidos e modificado no Brasil”. Também não há qualquer informação e sequer é mostrada alguma imagem do jogo EverQuest, deixando os telespectadores sem ter noção alguma sobre esse título. Ao menos um dos entrevistados é um jogador, que dá sua visão do fato. A opinião do superintendente do Procon de Mato Grosso do Sul é previsível, porém ele fala com a mesma propriedade que um padeiro teria para falar sobre engenharia mecatrônica. Ainda assim, nenhum número, estudo ou dado científico é mostrado para questioná-lo. Ao menos o pessoal da Globo procurou pesquisar e fez algumas boas reportagens sobre o mercado nacional de games, mas com dados e um mínimo de curiosidade de realmente procurar saber algo sobre o assunto mostrado.

O site The Escapist escreveu uma matéria excelente sobre o assunto, que em certo trecho eles acertadamente dizem:

Mas os jogos não estam sozinhos. Esse tratamento é praticamente um rito de passagem para qualquer nova midia. Revistas em quadrinhos, livros, Rock ‘n’ roll, televisão a cabo, música rap, e pornografia via internet todos sofreram igual ou pior, e a única lição de cada uma dessas experiências parece ter sido a viver através do pânico moral para ganhar larga aceitação “

Aproveitem para afinar o inglês e leiam o restante do texto, vale a pena. Ao menos desta vez, o caso do menino alemão não ganhou tanto destaque quanto a midia gostaria, ou talvez seja pelo fato da crise ecônomica mundial ocupar mais destaque, por motivos óbvios. Mas vocês devem ter sentido o veneninho com declarações do tipo “foi encontrado no computador do rapaz um videogame cujo objetivo é matar pessoas para ganhar pontos”. Mas não se enganem, se não foi dessa vez, pode haver qualquer outro evento para justificar um futuro pânico moral. Como diriam os integrantes do CQC, eles estão a solta, mas nós estamos de olho.

16 thoughts on “Explicando o pânico moral

  1. Ignorancia, essas pessoas que pararam nos anos 70 deveriam se lembrar de todas as repressões que sofreram para proíbir tal coisa. Pessoas antiquadas como as da minha familia que fazem comentários como: larga essa coisa de criança, olha o crianção. Deviamos nos espelhar no Japão onde os games são cultura. Essa materia que diz que foi encontrado jogos na casa do rapaz alemão eu assisti e a reação da minha família foi a de olhar pra mim e me repreender. Eu já tenho 23 anos e sei o que é certo e errado. Meu gosto por games violentos não me inspiram a sair pela cidade roubando carros e matando policiais, aquilo são poligonos e programação, não existe vida ali. Quando vi os acontecimentos da alemanha na hora comentei que não demoraria muita para colocarem a culpa nos games, e assim que aconteceu o acidente com o avião aqui no Brasil, comentei com a minha irmã que falariam que ele jogava simulador de voo e ela disse que deveria ser mesmo, e não deu outra. Eta povo atrasado

  2. É como dizem: não importa quem é o culpado, o que importa é em quem se vai jogar a culpa.

    Os pais não controlam os filhos, ae pra tirar os deles da reta jogam a culpa em outra coisa qualquer.

    Obs.: sobre o trecho “… ou mais recentemente quando um grupo de emos foi agredido por skin heads.”, eu não acompanhei este caso então não posso dizer nada a respeito, mas como observação, a mídia em geral costuma chamar de skinhead qualquer pessoa de cabeça raspada, agressiva e preconceituosa. Movimento skinhead nada tem a ver com nazismo, homofobia ou qualquer outro tipo de coisa.

  3. jah vi materias mal feitas, mas essa da band, fala serio q eh possivel alguem produtor de tv liberarar uma materia taum ruim assim…agora a sony eh a produtora do gta? gta soh vende nas plataformas da sony? a sony eh responsavel por gta??? a sony eh responsavel por controle de venda de jogos para suas plataformas?????? naum para todas as perguntas…
    e oq falaram da nintendo entaum, q mundo esse cara vive ? sera q ele jah viu uma criança com seus brinquedos? naum conheço uma criança q naum tenha arminha de brinquedo, ou espada, ou coisa do tipo, absolutamente todas tem…
    e o video da globo (q ta fora do ar mas achei no youtube…), o promotor disse q counter strike ensina taticas de guerrilha? ele tah falando serio, ele va aprender taticas de guerrilha jogando o jogo? entaum eh melhor proibir na colombia, iraque, e paises assim, naum eh?
    como sempre sobra ignorancia nas materias da midia sobre jogos, parece q ateh hj os jornais naum entenderam q quando vc vai falar sobre um assunto, vc chama um especialista sobre o assunto…esse erro acontece em todas as areas possiveis, reporter e jornalista se acha expert em todas as areas, quando na verdade num sabe nada de nada…
    por fim, mto bem acertado oq o The Escapist disse, toda area recente sofre esses preconceitos…hqs q saum mais violentas q jogos em geral sofriam antigamente, e hj saum esquecidas, o cinema jah sofreu, a propria tv sofreu essa pressão (naum dela msm eh obvio, mas de outras midias e outras pessoas), o governo adora a palavra censura, o mesmo governo q se diz heroico por ter lutado contra a censura na ditadura…o dia q a situação mudar vaum ser pq acharam outro para pegarem no peh…
    finalizando, parabens ao blog, o post ficou mto bom, gostei bastante XD
    ps: everquest??? pq alguem baniria everquest???

  4. Por que alguém baniria Everquest? Bom de acordo com a sentença do mesmo juiz que proibiu o Counter Strike, seria pelo fato do Ever “levar o jogador ao total desvirtuamento e conflitos psicológicos “pesados”; pois as tarefas que este recebe, podem ser boas ou más. ” Pois é, de acordo com o proeminente magistrado, o simples fato de podermos escolher entre o bem o mal em um jogo pode causar tudo isso aí. É demais para minha cabeça…

  5. se os pais não controlam seus filhos
    ls acabam sendo influenciados por esses jogos
    ja falei aki e repito
    MEU FILHO JOGARA,O QUE FOR INDICADO PARA A IDADE DELE,E NO QUAL EU ACHE BOM PARA A DIVERSÃO DELE!!!
    nunca meu filho com 10/12/14 vai jogar gta,so com 16 e olhe lá!!!
    e eu jogo gta desde os 13,nunca bati em ninguem,nunca atirei em ninguem,nunca achei q um VIDEOGAME pudesse ser algo de tantas crititas de pessoas ignorantes e burras q nao sabem nem o que dizem!!!

  6. pô avcf, se é assim de acordo com a teoria desse cara a gente tem q banir street fighter, eh extremamente violento, ensina vc artes marciais (inclusive golpes secretos como hadoukens), vc pode lutar com personagens bons ou maus, vc pode lutar contra seu amigo e matá-lo no jogo, e outras coisas…hauahuahuahauhauha, ou seja, os caras nem pensam antes de falar…e concordo com o nitrobr sobre os pais controlarem, mas naum acho q deva ser proibido toda e qualquer criança jogar gta, conheço um garoto de 9 anos q joga e eh normal, alias, todas crianças nessa idade jah jogam…sinceramente eu fico mto mais preocupado com a idade q crianças começam a namorar e fazer sexo (e as adolescentes ficam gravidas), do q com a influencia de jogos…mas ai eh de cada um se preocupar com cada coisa…

  7. ¬¬
    pensarei sobre isso

    ps:comentei sobre o caso deles serem violentos
    ps2:e banir nao adiantara nada ¬¬
    ps3:acontece,se ate o avs…avcf erra 🙂

  8. Oi Alan..
    Gostaria de saber mais sobre esse conceito..estou me formando em Ciencias Socias e pretendo utlizar esse conceito do Stanley Cohen na minha monografia que trata sobre o tráfico. sabe se consigo encontrar este livro traduzido?
    obrigada

  9. Bom, não sou o Alan, mas até onde sei não há tradução para a obra do Stanley Cohen. Só em inglês mesmo, cujo livro Folk Devils and Moral Panics está na terceira edição, se não me engano.

  10. ninguem melhor para responder q o proprio autor da materia…alias, acho q a Gloria confundiu os nomes, pq eu num citei o cara hora nenhuma, vc q citou avcf XD

  11. ah, esqueci de falar, saiu uma materia na galileu desse mes sobre racismo em jogo, e o cara fala de panico moral e outras coisas lah…sinceramente, a materia foi escrita por um gamer, pq tah boa demais para ser verdade, o cara começa falando q as pessoas taum acusando RE5 de ser racista pq se passa na africa, mas ele mostra claramente q o povo eh burro e doido msm, e q num tem nada de racista fazer um jogo se passar na africa ¬¬ (inclusive quem diz esse tipo de coisa eh q tem intenções racistas!) o povo chegou a falar q o simples fato de ter um vilão negro eh racista, olha q coisa retardada ¬¬

  12. Enquando houver pessoas ricas, sempre criarao polemicas para ganhar mais dinheiro, conheçemos hoje que sempre foi e sempre será nosso inimigo mas as pessoas nunca percebem, a MIDIA

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